sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Roma

ASSUNTO

Racismo, classismo, relações afetivas, familiares e sociais.

SINOPSE

Cidade do México, 1970. A rotina de uma família de classe média é controlada de maneira silenciosa por uma mulher (Yalitza Aparicio), que trabalha como babá e empregada doméstica. Durante um ano, diversos acontecimentos inesperados começam a afetar a vida de todos os moradores da casa, dando origem a uma série de mudanças, coletivas e pessoais.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Aclamado pela crítica, o filme é um retrato da sociedade mexicana em uma época não muito longínqua, está repleto de metáforas sociais e de fácil identificação com outras culturas. Roma é o nome de um bairro mexicano de classe alta e não dá cidade italiana. O luxuoso bairro contrasta com outros locais frequentados pelos menos privilegiados. Assim como em outros países da América Latina, a empregada doméstica e babá é a personagem central do meio familiar. Ao mesmo tempo em que é invisível aos integrantes da família, ela é a peça central que dá suporte e movimento ao enredo. O diretor escolheu retratar, com carinho, momentos de sua vida. Não perdeu, nem mesmo a oportunidade de exibir os constantes aviões cruzando o céu. Uma perspectiva que vai além de sua memória, pois serve também como uma forma de transmitir a ideia de transitoriedade, o que nos remete às situações pelas quais os personagens passam. Além da metalinguagem, que rende homenagens a outros filmes, o longa aproveita a oportunidade para retratar acontecimentos trágicos e marcantes dos anos 70. Cléo transita entre os seus dramas pessoais e os da família, que se torna parte de sua trajetória de vida.  Sendo assim, num momento ela está aconchegada com os patrões vendo filme, em outro, cumprindo ordens específicas e urgentes. Carinho e frieza, presença e ausência, consideração e desprezo, são algumas polaridades marcadas na relação empregada/patrão. Se, por um lado inclui a babá como parte da família, por outro, a mantém no “seu lugar”, ou seja, na classe social a qual pertence, e, na qual deve permanecer.
Além do classismo (discriminação por classe social), o racismo também é abordado na trama, representado aqui pela origem indígena de Cléo, o que poderia ser igualmente representado por uma personagem negra, em outra cultura. Qualquer deles pode expor as desigualdades sociais e raciais, plantadas historicamente, com requícios ainda em nosso século. Roma nos força a refletir sobre as poucas mudanças das estruturas sociais nas últimas décadas. Curioso notar, que apesar das diferenças sociais marcadas na trama, acompanhamos duas mulheres que estão “presas”, seja em sua condição social de empregada doméstica, ou, por sua condição feminina, em uma época em que pouco era permitido às mulheres (Sofia). Os costumes e conflitos políticos apresentados evidenciam lugares físicos, sociais e psicológicos ocupados, não só por personagens fictícios. A família patriarcal define papéis, hierarquicamente engessados, origem da vida contemporânea, portanto, ainda contaminando e atravessando as relações de nosso século. O filme não pretende fazer qualquer lição moralista, ou, explicitar qualquer crítica. É apenas o retrato de uma época e lugar, comum a diferentes culturas. Essa perspectiva nos faz perceber o quão pouco avançamos em nossas formas de convivência com semelhantes. Isso é o mínimo de reflexão motivada por Roma, um filme necessário!


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