ASSUNTO
Racismo,
classismo, relações afetivas, familiares e sociais.
SINOPSE
Cidade do México, 1970. A rotina de uma família
de classe média é controlada de maneira silenciosa por uma mulher
(Yalitza Aparicio), que trabalha como babá e empregada doméstica. Durante
um ano, diversos acontecimentos inesperados começam a afetar a vida de todos os
moradores da casa, dando origem a uma série de mudanças, coletivas e pessoais.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Aclamado
pela crítica, o filme é um retrato da sociedade mexicana em uma época não muito
longínqua, está repleto de metáforas sociais e de fácil identificação com outras
culturas. Roma é o nome de um bairro mexicano de classe alta e não dá cidade
italiana. O luxuoso bairro contrasta com outros locais frequentados pelos menos
privilegiados. Assim como em outros países da América Latina, a empregada
doméstica e babá é a personagem central do meio familiar. Ao mesmo tempo em que
é invisível aos integrantes da família, ela é a peça central que dá suporte e
movimento ao enredo. O diretor escolheu retratar, com carinho, momentos de sua
vida. Não perdeu, nem mesmo a oportunidade de exibir os constantes aviões cruzando
o céu. Uma perspectiva que vai além de sua memória, pois serve também como uma
forma de transmitir a ideia de transitoriedade, o que nos remete às situações pelas
quais os personagens passam. Além da metalinguagem, que rende homenagens a
outros filmes, o longa aproveita a oportunidade para retratar acontecimentos trágicos
e marcantes dos anos 70. Cléo transita entre os seus dramas pessoais e os da
família, que se torna parte de sua trajetória de vida. Sendo assim, num momento ela está aconchegada
com os patrões vendo filme, em outro, cumprindo ordens específicas e urgentes. Carinho
e frieza, presença e ausência, consideração e desprezo, são algumas polaridades
marcadas na relação empregada/patrão. Se, por um lado inclui a babá como parte
da família, por outro, a mantém no “seu lugar”, ou seja, na classe social a
qual pertence, e, na qual deve permanecer.
Além do classismo (discriminação por
classe social), o racismo também é abordado na trama, representado aqui pela
origem indígena de Cléo, o que poderia ser igualmente representado por uma personagem
negra, em outra cultura. Qualquer deles pode expor as desigualdades sociais e
raciais, plantadas historicamente, com requícios ainda em nosso século. Roma
nos força a refletir sobre as poucas mudanças das estruturas sociais nas
últimas décadas. Curioso notar, que apesar das diferenças sociais marcadas na
trama, acompanhamos duas mulheres que estão “presas”, seja em sua condição
social de empregada doméstica, ou, por sua condição feminina, em uma época em
que pouco era permitido às mulheres (Sofia). Os costumes e conflitos políticos
apresentados evidenciam lugares físicos, sociais e psicológicos ocupados, não
só por personagens fictícios. A família patriarcal define papéis,
hierarquicamente engessados, origem da vida contemporânea, portanto, ainda
contaminando e atravessando as relações de nosso século. O filme não pretende
fazer qualquer lição moralista, ou, explicitar qualquer crítica. É apenas o
retrato de uma época e lugar, comum a diferentes culturas. Essa perspectiva nos
faz perceber o quão pouco avançamos em nossas formas de convivência com
semelhantes. Isso é o mínimo de reflexão motivada por Roma, um filme necessário!
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