Abuso sexual em família, relações afetivas, familiares e sociais, psicoterapia.
De difícil digestão, o filme aborda o abuso sofrido no seio familiar. Difícil mesmo, ficamos com um nó na garganta, diante da forma que o diretor escolhe para apresentar o enredo. A personagem nos é mostrada ainda criança, inocente, em meio a brincadeiras e muito amor. Somos então, levados a cena que retrata o primeiro abuso. Seu pai, figura amada, parceiro de deliciosas brincadeiras que lhe tiram gargalhadas infantis, inicia um processo de traição ao que representa o primeiro grande amor, quando dá início ao que se tornaria rotina em sua vida. A cena, ainda que implícita, é angustiante. Seguimos a trama, sofrendo abusos rotineiros. Ainda criança, ela tenta falar com sua mãe a respeito e é fortemente desqualificada pela mesma, pois a mãe ainda a acusa de “inventar estórias”. O relacionamento com a mãe deixa a desejar, seja em termos de confiança ou mesmo de afeto. O universo da criança está restrito ao afeto de seu algoz, confundindo sentimentos dentro da menina. Seu mundo de afetos é nebuloso, não há construção saudável de sua identidade. Sílvia sobrevive aos constantes abusos do pai e a ausência materna. No desenrolar da trama, percebemos que a os pais separam e ela permanece com o pai, apesar do seu desejo, como será esclarecido posteriormente, de ir com a mãe. Sua amiga de infância, é quem mais se aproxima de uma referência confiável. Da infância a adolescência, os problemas de comportamento vão permeando sua vida e resultam em internação, após tentativa de suicídio. É também a oportunidade de refazer sua estória, se desligando desse passado cruel e se revelando quem de fato é. O processo de psicoterapia é iniciado, dando força para que Silvia passe sua vida a limpo, revendo cada uma das pessoas com outros olhos. Ouvimos as palavras da terapeuta: “Fique com esse medo, com essa sensação, enquanto o faz, tenta seguir o movimento dos meus dedos com os seus olhos.” É a primeira vez que silvia compartilha suas angústias. AOns poucos, Sílvia aprende a enfrentar seus medos e busca encarar cada qual e esclarecer suas mais profundas questões. Reviver amor e ódio com seu pai, enfrentar a omissão materna sem permitir que a mesma distorça sua realidade e esclarecer suas dúvidas em relação a amiga, permitem que Silvia se liberte. Aqui percebemos que Sílvia começava um relacionamento amoroso de forma dependente, dando continuidade ao que para ela era amor. Fica implícito que sua identidade é de fato resgatada, no momento em que ela se despede da dependência, seja de pessoas ou do instrumento, ousando se libertar de qualquer “muleta”, se permitindo iniciar a vida independente, autônoma.
Durante a trama, são apresentados diversos depoimentos de pessoas que sofreram abusos, no grupo terapêutico. É um drama de difícil compreensão, sofrido, está repleto de questões referentes ao abuso dentro da família. Recomendado para poucos, não é indicado apenas como entretenimento.
SINOPSE
O filme narra a luta de Silvia, que aos 25 anos decide refazer sua vida por completo e se redescobrir, enfrentando as pessoas, emoções e sentimentos do passado na busca por superar, em definitivo, as sequelas dos abusos sexuais sofridos na infância. Silvia é uma jovem marcada por uma obscura infância. E na sua luta contra a adversidade, contra si mesma, aprenderá a controlar seus medos e se converter em uma mulher adulta, dona dos seus próprios atos.
TRAILER