sábado, 11 de janeiro de 2014

Blue Jasmine

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ASSUNTO
Relações sociais, afetivas e familiares, autoestima, neurose, transtornos mentais, crise financeira, crise existencial.
SINOPSE
Uma mulher rica (Cate Blanchett) perde todo seu dinheiro e é obrigada a morar em São Francisco com sua irmã (Sally Hawkins), em uma casa muito mais modesta. Ela acaba encontrando um homem (Alec Baldwin) na Bay Area que pode resolver seus problemas financeiros, mas antes ela precisa descobrir quem ela é, e precisa aceitar que São Francisco será sua nova casa.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Além de azul, a palavra "blue" significa melancólico, deprimido no inglês. O nome do filme também acaba sendo uma referência à música "Blue Moon", tocada diversas vezes durante a obra, seja para marcar situações de ostentação, seja para mostrar o quão diferente está a vida de Jasmine. O drama, como tantos outros de Woody Allen, brinca com alguns dos conflitos puramente humanos. Claro, brincadeira é coisa séria, quando falamos do diretor. Assim, questões financeiras, problemas nas relações familiares, afetivas, sociais ou questões de autoestima estão presentes no longa. Do ponto de vista social, o filme expõe uma realidade recente, pois devido à crise financeira, muitos, especuladores ou não, perderam posição sua social na última década. Diante de obras como esta, fica difícil focar em apenas um aspecto do que é exposto na trama. O filme é provocador, não há dúvida. Loucura e neurose, verdades e mentiras, Ser e Ter... Quantas realidades cabem numa vida?
Todos nós passamos por verdades particulares, àquelas “inventadas” para enfrentarmos uma realidade dolorosa. Assim também acontece com Jasmine, filha adotiva que logo aprendeu a viver num mundo fantasioso, onde nem o seu nome verdadeiro cabia. É quando este Universo desaba que ela tem a chance de reconstruí-lo, a partir do retorno às suas origens. Entretanto, não é nada fácil entrar em contato com a realidade. O contraste fica evidente no encontro com sua meia irmã Ginger, uma simples empacotadora que tem os pés fincados em outro Universo. No entanto, no lugar de Ginger conseguir colocar a irmã em contato com a realidade, é a fantasia que seduz a empacotadora. A todo o momento vemos a ex-socialite tomar comprimidos, até quando está feliz (Aqui testemunhamos uma crítica sutil ao comportamento comum de evitar emoções através das drogas lícitas). Os drinques também estão presentes em todos os momentos. A fuga da realidade aparece de diversas formas. Através de cenas de flashbacks, vamos conhecendo algumas verdades que a moça sempre evitou. Se antes já apresentava certa alienação, após a queda social, Jamine passa a flertar com a loucura. Ela não só fala sozinha, mas perde o “filtro”, a censura, fala com qualquer um sobre questões íntimas, até mesmo com seus sobrinhos. A linha tênue entre normalidade e loucura é explorada, principalmente por conta de a trama mostrar pequenos conflitos humanos, nos quais muitos poderão se identificar. Quem de nós já não “evitou” entrar em contato com a realidade em algum momento da vida? “Olhar para o lado” tem sido considerado um comportamento humano comum na sociedade ocidental. Estamos diante de um dilema contemporâneo, afinal o que é normal? O outro é facilmente apontado como o responsável por algum desvio de conduta ou comportamento inadequado. Diariamente criticamos políticos corruptos, personalidades famosas “alienadas”, etc. Mas, quando temos oportunidade, jogamos lixo pela janela, oferecemos dinheiro em troca de favores, nos adaptamos facilmente. Ao falarmos de nós mesmos, tudo muda, temos justificativas de sobra para nos comportar desse ou daquele modo. Ao se distanciar do sentido da própria existência, dos próprios sentidos, o ser humano pode “comprar” um ideal de felicidade que não lhe pertence. A distância entre a realidade e a fantasia pode ser tão tênue, que a loucura se torna uma possibilidade. E a vida passa a ser tão vazia, que não é mais possível acessar aos próprios sentidos, seja de si ou do mundo. Assim parece ocorrer com a personagem, que em suas angústias existenciais nos provoca diversas reflexões. Que mundo nós estamos aceitando ou construindo para viver? O que de fato sentimos agora, o que nos informa nossos sentidos sobre nós mesmos e o mundo que nos cerca? Ideias e ideais estão caminhando juntos aos nossos mais básicos sentidos? O filme é de fato uma obra de Woody Allen, e, merece ser vista, comentada, discutida, pois existem diversos aspectos que podem render reflexão e discussão, no melhor sentido da palavra. Super recomendado!




4 comentários:

  1. Olá, quando assisti o filme, fiquei assombrada por reação dela em alguns pontos do filme, eu tenho a mesma reação quando lembro de algo que não gosto ou quando sinto medo. Não tenho asma, mas é muito parecido. Parece que mesmo que eu puxe todo o ar do mundo, não vou conseguir encher meus pulmões, e eu faço terapia mas nunca me lembrei de deixar meu doc a par da situação. Há um nome para isso? Poderia me ajudar?

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    Respostas
    1. Janine,
      Seu relato não é suficiente para que se possa identificar um "nome para isso", um rótulo ou diagnóstico. Se você me acompanha, já deve saber que trabalho pela abordagem gestáltica, e, que nossa visão não costuma incluir o diagnóstico como definição de alguém. Ou seja, o sintoma reflete o diagnóstico como processo, não há nada pronto. Nesse aspecto, o que vc relata, embora sem um contexto que possa dar melhor contorno, pode ser considerado como crise de ansiedade ou sintoma depressivo (depende do contexto). Entretanto, para a gestalt-terapia, é um sinal claro de evitação de alguma situação inacabada, que precisa ser atualizada. Para nós, o sintoma é uma porta para o fechamento de uma situação, é a forma criativa que o organismo encontrou para se auto-regular, nosso olhar foca a saúde, não a doença. Nesse caso, sim, é necessário trabalhar isso em sua terapia, pois seu corpo está sinalizando algo que precisa ser visto, elaborado, enfrentado. Seja o medo ou a negação não assumida, algo está se revelando aí e precisa ser visto. Boa sorte!
      Patrícia Simone

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    2. Obrigada pela atenção e pela resposta. Na verdade, até então não acompanhava o blog, pesquisei sobre o filme, pra entender um pouco mais de mim e acabei encontrando vocês. Eu sou muito insegura, tenho grandes traumas, autoestima baixa, sou muito ciumenta e tenho muito medo de ser trocada. Quando vejo algo que tenho muito ciúme, tenho fobias, falta de ar, ânsia de vomito, ameaças de desmaio. Outro exemplo é minha fobia de palhaços. Mesmos sintomas. Tambem me dão crises de choro. Queria muito melhorar. Obviamente irei tratar tudo isso.

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    3. Janine,
      Não estou publicando sua resposta, pois a considerei bastante pessoal. Caso interesse, entre no link do facebook, ou me mande e-mail (patriciasimonepsi@hotmail.com), para que eu possa te orientar melhor.
      abçs
      Patrícia

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