terça-feira, 12 de julho de 2016

Como eu era antes de você


ASSUNTO
Relações afetivas,  deficiência física, singularidade, livre-arbítrio, e, dos conceitos gestálticos, destacamos: Contato e fronteira de contato.

SINOPSE
Às vezes você encontra o amor onde menos imagina. E às vezes ele te leva onde nunca esperou ir. Louisa "Lou" Clark vive em uma pitoresca cidade de campo inglesa. Sem direção certa em sua vida, a criativa e peculiar garota de 26 anos vai de um emprego a outro para tentar ajudar sua família com as despesas. Seu jeito alegre no entanto é colocado à prova quando enfrenta o novo desafio de sua carreira. Ao aceitar um trabalho no "castelo" da cidade, ela se torna cuidadora e acompanhante de Will Traynor, um banqueiro jovem e rico que se tornou cadeirante após um acidente ocorrido dois anos antes, mudando seu o mundo dramaticamente em um piscar de olhos. Não mais uma alma aventureira, mas o agora cínico Will, está prestes a desistir. Isso até Lou ficar determinada a mostrar a ele que a vida vale ser vivida. Embarcando juntos em uma série de aventuras, Lou e Will irão obter mais do que esperavam e encontrarão suas vidas - e corações - mudando de um jeito que não poderiam ter imaginado.
Rico e bem sucedido, Will (Sam Claflin) leva uma vida repleta de conquistas, viagens e esportes radicais até ser atingido por uma moto, ao atravessar a rua em um dia chuvoso. O acidente o torna tetraplégico, obrigando-o a permanecer em uma cadeira de rodas. A situação o torna depressivo e extremamente cínico, para a preocupação de seus pais (Janet McTeer e Charles Dance). É neste contexto que Louisa Clark (Emilia Clarke) é contratada para cuidar de Will. De origem modesta, com dificuldades financeiras e sem grandes aspirações na vida, ela faz o possível para melhorar o estado de espírito de Will e, aos poucos, acaba se envolvendo com ele.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Um filme que difere de outros romances, não só por seu desdobramento, mas também por pequenos detalhes que fazem diferença. Por exemplo, o início mostra o “mocinho” antes e durante o acidente, que o tornará tetraplégico. No momento do atropelamento, Will estava distraído no celular. A cena pode passar despercebida, mas não deixa de retratar uma realidade da nossa era, portanto, trata-se de um alerta ou de uma crítica sutil. Por outro lado, temos personagens fortes, capazes de nos provocar reflexões. Louise é dedicada, atrapalhada, quase caricata, mas não há dúvida que tratamos de uma pessoa capaz de realizar verdadeiros contatos. Se por um lado, a mesma se vira para atender às necessidades do próximo, sua identidade fica bem definida em seu comportamento autêntico.  Na abordagem Gestáltica a fronteira é ao mesmo tempo o lugar de contato e de imite, é o lugar da tensão e do acontecimento, da diferença e do crescimento. Poucos personagens apresentam a fronteira tão flexível quanto à da “mocinha”, que nos encanta com sua forma de funcionar no mundo. Ela não abre mão de suas roupas estranhamente simpáticas, que marcam sua presença. No entanto, abre mão de si mesma para dar lugar ao outro querido, seja um familiar ou qualquer pessoa que evidencie alguma necessidade pessoal. É uma personagem ímpar! Will é alguém que não suporta ver o mundo de outra perspectiva. O acidente o obriga a visitar outros olhares, ele se recusa. Após sua nova condição, Will apresenta sintomas depressivos, um mau humor constante, um desprezo pela vida. A luz de Lou pode tornar o mundo menos cinza e apresentar encantamento ao rapaz, mas não é suficiente para que ele desista de seu plano. Ainda assim, somos convidados a assistir uma relação de contato entre ambos, que sendo afetados por aquele contato autêntico, se transformam. O afeto é oque afeta e se arrisca a ser afetado, o que, de fato, transforma. Ampliados em sua forma singular de existir, ambos crescem através daquele contato.
Ambos expandem seus mundos individuais. O final, como na vida real, não é o esperado, é polêmico, aberto a diferentes críticas, mas uma questão singular, que talvez não pertença a nenhum crítico externo. Há um livre arbítrio, “cada um sabe onde o seu calo aperta”, já dizia minha mãe. Não há categoria que possa definir a particularidade de cada ser. Todos temos algo em comum, mas há sempre uma singularidade que deve ser respeitada, não é possível ter uma única medida das coisas, cada um tem a sua própria definição do próprio funcionamento. No mais, temos  as relações familiares, que tendem a influenciar, sofrer e participar da escolha individual. Uma perspectiva difícil na maior parte dos casos que envolvem e afetam a família. O sofrimento dos que amam e tentam compreender o ponto de vista individual pode ser foco de uma questão familiar. Seja por questões tão sérias, como as apresentadas no drama, ou, por outras tantas tão comuns no cotidiano familiar. Por exemplo, a saída de um filho, sua escolha pessoal, seja para uma viagem, para o casamento ou uma e qualquer outra escolha inesperada. No filme, somos convidados a refletir  sobre o conceito de fronteira, tão caro para a Abordagem Gestáltica, e, tão difícil de ser compreendido em nossa cultura. Em pleno século XXI os sujeitos amorosos ainda são citados como "metade da laranja" ou "tampa de panela". Os "inteiro" ainda luta para simplesmente existir! Pela polêmica que finaliza o drama, penso que é possível refletir sobre o limite entre o que é comum e o que é do indivíduo singular e único. se o espectador for capaz de suspender o julgamento, é possível refletir, partindo do romance pouco convencional. Preparem o lenço, e, embarque neste romance super recomendado!

4 comentários:

  1. Acompanho sempre suas publicações, .... parabéns pelos comentários e muito obrigado!

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    1. Alberes, Obrigada por tudo! se tiver interesse, ente nos links do face, um deles é uma página que avisa quando tiver post novo, o outro é do grupo que, além de oferecer links dos filmes, apresenta um espaço rico para trocas sobre o tema e sobre a Abordagem Gestáltica!
      Volte Sempre!!

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  2. Boa noite, estou fazendo um trabalho sobre as leis da Gestalt e sobre esse filme não consegui identificar em qual lei entraria, poderia me ajudar?
    Desde já agradeço, gosto muito do seu trabalho.
    Letícia

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    1. Letícia,
      É importante saber de que Gestalt falamos, da psicologia da Gestalt ou da Abordagem gestáltica (Gestalt-terapia). Em todo caso, a ótica irá depender do momento a que se refere, pois para ambas, o aqui e agora é crucial. Ambas se referem a organização do campo, ou seja, de como as partes interagem para formar o todo. Tentei buscar em minha memória algum aspecto que se destacasse, sintetizando uma única lei que se revele como figura, mas não me lembro o suficiente. Além disso, é preciso considerar a perspectiva de quem ou como foi feita a solicitação. Não podemos esquecer que a experiência do observador irá contribuir com o "fechamento" da Gestalt! Se tiver mais detalhes, posso tentar ajudar. Caso contrário, seria necessário assistir novamente ao filme, considerando a perspectiva pretendida. Quando tiver um tempo, tentarei rever o filme para tentar ajudar mais. Abs,
      Patrícia Simone

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