quinta-feira, 6 de abril de 2017

Manchester à beira-mar


ASSUNTO

Perda, luto, relações familiares, sociais e afetivas.

SINOPSE

Lee Chandler é uma espécie de faz-tudo do pequeno complexo de apartamento onde vive, no subúrbio de Boston. Ele passa seus dias tirando neve das portas, consertando vazamentos e fazendo o possível para ignorar a conversa de seus vizinhos. Em suas noites vazias, Lee bebe cerveja no bar local e arruma confusão com qualquer um que lhe lançar um olhar. Quando seu irmão mais velho morre, ele recebe a desagradável surpresa de sua nomeação como tutor de seu sobrinho. De volta a sua cidade natal, ele terá que lidar com memórias queridas e dolorosas.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA


O filme é um retrato da realidade, razão pela qual, talvez, não tenha agradado aos que se acostumaram com a “receita pronta” de felicidade, comumente exibida nas telonas. É desconcertante assistir ao comportamento insensato no qual Lee,  entre silêncios, repletos de expressões angustiantes e agressões gratuitas, transita pela vida. O drama surpreende por sua narrativa realista e de fácil identificação com as possíveis perdas em nosso cotidiano. O assunto é conhecido, mas pouco explorado em uma vertente tão sincera, aflitiva, afetuosa e até engraçada. Todos nós temos alguma dificuldade em lidar com diferentes momentos de perda e luto, principalmente quando se trata de alguém afetivamente conectado com nossa existência. Em algumas situações, a perda pode ser devastadora. Comovente, sem ser apelativo, às vezes cômico, sem virar comédia, o filme é uma injeção de vida, apesar de falar de morte. É isso mesmo, você corre o sério risco de sair da sala de cinema mais revigorado. A simplicidade em que trata de assuntos tão complexos, traz um diferencial para o longa, que não deixa de provocar algumas reflexões.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Estrelas além do tempo

ASSUNTO

Relações sociais, familiares e afetivas, racismo, preconceito.

SINOPSE

1961. Em plena Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética disputam a supremacia na corrida espacial ao mesmo tempo em que a sociedade norte-americana lida com uma profunda cisão racial, entre brancos e negros. Tal situação é refletida também na NASA, onde um grupo de funcionárias negras é obrigada a trabalhar a parte. É lá que estão Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), grandes amigas que, além de provar sua competência dia após dia, precisam lidar com o preconceito arraigado para que consigam ascender na hierarquia da NASA.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Ser mulher nos anos 60 não era fácil, muito menos quando se for negra. O foco do longa está na trajetória de 3 mulheres negras, que conseguiram conquistar um espaço profissional dentro da NASA. Obviamente, precisaram lutar para isso. A segregação era explícita, até os banheiros e locais de alimentação eram separados, independente do cargo que ocupassem. Elas tiveram que enfrentar preconceitos sociais, raciais e de gênero. O filme não as coloca no lugar de vítimas, pelo contrário, temos a apresentação de verdadeiras heroínas, que precisaram suportar diversas pressões para mostrar sua competência. O que nos faz refletir sobre quantos potenciais gênios foram e ainda são perdidos por puro preconceito, das mais diferentes formas. Ainda vemos pessoas competentes serem discriminadas, pouco ou nada aproveitadas, e, quem perde é a humanidade. Acompanhar a luta dessas mulheres durante uma época em que o preconceito racial era explícito nos remete ao momento atual, como se tudo tivesse mudado o bastante. Não, não é o suficiente. Qualquer diferença da massa é alvo de preconceito, estigmas, rótulos de todas as espécies. Ainda é possível, por exemplo, encontrarmos dependência de empregadas em imóveis das grandes metrópoles. O diagnóstico físico nos mostra o quanto ainda estamos longe de permitir direitos iguais a todos os seres humanos. A luta está longe de acabar, seja para negros, para mulheres, para pobres, doentes mentais, homossexuais, etc.

terça-feira, 28 de março de 2017

Moonlight: sob a luz do luar

ASSUNTO

O Auto-suporte, abuso, dependência química, drogas, preconceito, homossexualidade, relações afetivas, sociais e familiares, violência.

SINOPSE

Três momentos da vida de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas, este é um poético estudo de personagem. O protagonista trilha uma jornada de autoconhecimento enquanto tenta escapar do caminho fácil da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Encontrando amor em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro maravilhoso.

TRAILER



O OLHAR DA PSICOLOGIA


O filme poderia ter como título CHIRON EM BUSCA DE SI MESMO, pois retrata a trajetória de Chiron na busca da própria identidade, diante de um contexto adverso, agressivo e desestruturado. A jornada é universal e também particular, tendo em vista suas peculiaridades. Ele é negro, pobre e ainda vive em uma família monogâmica e disfuncional. Sim, a mãe não tem possibilidade de lhe oferecer suporte, sendo dependente química, suas alterações abusivas contribuem para a infância solitária do menino. Diante de um contexto tão insensível e adverso, Little (apelido de infância) sobrevive como pode. Vítima de bullying, preconceito racial e homofóbico, seus conflitos existenciais encontrarão algum suporte no afeto de Juan, o traficante, e sua namorada, pessoas que abrem espaço para sua autenticidade. A namorada contribui para que o menino encontre uma brecha de suporte afetivo em meio ao conturbado universo em que vive, enquanto Juan ocupa o vazio da figura paterna. Seu desenvolvimento encontra novos obstáculos, seja na transição para a adolescência, ou para a vida adulta.

Beleza Oculta


ASSUNTO

Luto, relações sociais, familiares e afetivas.

SINOPSE

Após uma tragédia pessoal, Howard (Will Smith) entra em depressão e passa a escrever cartas para a Morte, o Tempo e o Amor - algo que preocupa seus amigos. Mas o que parece impossível, se torna realidade quando essas três partes do universo decidem responder. Morte (Helen Mirren), Tempo (Jacob Latimore) e Amor (Keira Knightley) vão tentar ensinar o valor da vida para o protagonista.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA


Considerado pela crítica como apelativo e superficial, o filme aborda temas existenciais de forma rasa. No entanto, é possível encontrar uma perspectiva interessante, quando percebemos não só o luto como tema, mas a morte como elemento fundamental que liga os personagens. A perda de um filho pode ser devastadora para qualquer ser humano, sem dúvida, a premissa da trama nos coloca em contato com a dor de forma clara, sendo difícil não ser tocado pelo drama de Howard. Por outro lado, o encontro com as personificações da morte, do tempo e do amor se prestam metaforicamente ao processo de luto, que pode envolver reflexões a respeito dos temas, mesmo que seja para discordar das abordagens apresentadas. Não há dúvida que a maior riqueza do filme está em nos remeter para nossas experiências particulares de perda. Aí, sim, cada espectador pode tirar proveito da experiência, pois há uma oportunidade implícita de projeção e atualização das próprias feridas. No mais, assistimos a prioridade dos interesses financeiros em detrimento do valor real da amizade, da dor do outro, da solidariedade. De fato, a escolha dos amigos e sócios beira a canalhice, ignora o plausível e a perspectiva afetiva do drama. Sim, a premissa inicial, repleta de potencial a ser desenvolvido, é esvaziada em seu desenvolvimento, tornando a trama confusa e fraca em argumentos.  

FRAGMENTADO


ASSUNTO

Saúde mental, transtorno dissociativo de identidade, abuso, relação terapêutica, relações sociais.

SINOPSE

Kevin (James McAvoy) possui 23 personalidades distintas e consegue alterná-las quimicamente em seu organismo apenas com a força do pensamento. Um dia, ele sequestra três adolescentes que encontra em um estacionamento. Vivendo em cativeiro, elas passam a conhecer as diferentes facetas de Kevin e precisam encontrar algum meio de escapar.

TRAILER




O OLHAR DA PSICOLOGIA

Transtorno dissociativo de identidade (anteriormente conhecido como distúrbio de personalidade múltipla ou transtorno de múltiplas personalidades) é uma condição psicológica complexa que é provavelmente causada por muitos fatores, incluindo trauma grave durante a primeira infância (abuso físico, sexual ou emocional geralmente extremo, repetitivo). Diferente de SYBIL, um filme de 1976 que relata um caso verídico de 17 personalidades, FRAGMENTADO mistura realidade e ficção, trazendo um paciente mais complexo. Kevin é acompanhado por terapeuta, que identificou 23 personalidades, até então. Na trama, ele entra numa nova crise, dando pistas de uma 24ª personalidade, ainda desconhecida. Sugerindo estar no comando, aos poucos ela irá controlar todas as outras personalidades, provocando o sequestro das três adolescentes e outros acontecimentos inesperados.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Lion, uma jornada para casa


ASSUNTO

Adoção, superação, resiliência, preconceito, relações familiares, afetivas e sociais.

SINOPSE

Quando tinha apenas cinco anos, o indiano Saroo (Dev Patel) se perdeu do irmão numa estação de trem de Calcutá e enfrentou grandes desafios para sobreviver sozinho até de ser adotado por uma família australiana. Incapaz de superar o que aconteceu, aos 25 anos ele decide buscar uma forma de reencontrar sua família biológica.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Adaptação do livro de mesmo título, o filme conta a história real de Saroo, um dos tantos outros meninos que se perdem todos os dias na Índia. Apesar de ter sido adotado por uma família que o educou com amor, o passado dele o atormenta, impedindo-o de viver plenamente as oportunidades do momento presente. A trajetória de Saroo é a materialização de uma busca comum a todo ser humano. Afinal de contas, nossas neuroses estão diretamente ligadas ao passado mal elaborado. Ao acompanhar sua busca, fica impossível não entrar em contato com algo da própria infância, portanto, é improvável não se emocionar. Podemos chamar de ‘busca de nossas origens’ ou de ‘passar nosso passado a limpo’, mas em algum momento, nos defrontamos com circunstâncias que nos remetem a uma situação inacabada da infância. Revisitar nossa história não significa mudar o presente, ao contrário, nos permite viver o presente em sua plenitude, sem amarras. Assim, nosso protagonista segue buscando suas origens.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Meu nome é Ray (About Ray)


ASSUNTO

Relações afetivas, sociais e familiares, transexualidade, homossexualidade, crise existencial e segredos.

SINOPSE

Três gerações de mulheres de uma família que vive sob um mesmo teto em Nova York precisam lidar com uma grande transformação de uma delas que vai afetar a todas. Ray (Elle Fanning) é uma adolescente que decidiu mudar de sexo. Sua mãe solteira, Maggie (Naomi Watts) precisa rastrear o pai biológico de Ray (Tate Donovan) para obter seu consentimento legal para a mudança. Dolly (Susan Sarandon), avó lésbica de Ray, está com dificuldade em aceitar que agora tem um neto. Cada um deles precisa confrontar sua própria identidade, aprender a aceitar a mudança e sua força como família para finalmente encontrar compreensão e harmonia.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Embora, apresente e discuta a transexualidade, o foco maior é na crise existencial da mãe de Ray. Sim, Mag está em crise. Não há porque desmerecer tal enfoque, afinal, Ray se reconhece como menino em corpo de menina, não há crise de identidade para ele. E, no final das contas, a família sempre terá dificuldade para lidar com a situação. Certamente, para Mag é mais do que isso, ela tem seu segredo em relação à paternidade de Ray e uma dificuldade tremenda em lidar com as próprias responsabilidades de mulher, adulta e mãe, sem falar na dificuldade imposta pelas necessidades de Ray. Aliás, o ponto de partida da trama está exatamente nessas necessidades. Aos 16 anos, Ray precisa da autorização do pai para realizar procedimentos médicos que favoreçam sua existência. As relações familiares são colocadas em foco a partir de então. Três gerações se encontram morando no mesmo espaço, a mãe homossexual e sua companheira, Mag e Ray. As críticas não pouparam alfinetadas, por uma simples razão, o tom pastelão da comédia tira a chance dos temas abordados serem apresentados com maior seriedade. Ainda assim, temos uma perspectiva interessante quando olhamos a interpretação de Elle Fanning, que em diferentes momentos dá espaço para os conflitos possíveis da sua condição, seja quando esconde seu peito ou quando trabalha incansavelmente para desenvolver sua versão feminina. Há clara indicação de sua necessidade primordial de encontrar uma vida mais autêntica. Sua avó homossexual não compreende as angústias da neta. Em seu universo, o desejo pelo mesmo sexo pode ser resolvido apenas assumindo a homossexualidade, sem que seja necessário trocar de sexo. Ela não percebe que para a neta (o), o maior problema não é a orientação do seu desejo, mas viver em um corpo que não reconhece como seu. Desde os 4 anos, ela percebe que aquele corpo não lhe pertence, que não é livre para ser ele mesmo, enquanto habita um corpo que lhe aprisiona.

Jane procura um namorado


ASSUNTO

Síndrome do espectro autista, relações afetivas, sociais e familiares.

SINOPSE

Jane é uma jovem mulher cheia de sonhos, mas alguns deles limitados pela complexa Síndrome de Asperger, uma condição rara que afeta a capacidade do indivíduo de se socializar e de se comunicar de maneira afetiva. Ela encontra apoio sobretudo em sua irmã, Bianca, que decidiu ajudá-la com uma missão ousada: achar o par ideial para começar a namorar.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Ok, é um filme clichê, uma comédia romântica, blá blá blá. Entretanto, falamos de uma protagonista feminina com síndrome de Asperger. Só por isso já vale assistir. Jane tem paixão pelos filmes antigos, exercita seu desejo de vivenciar romances, usa os filmes para treinar, afinal de contas, os portadores da síndrome têm dificuldade de reconhecer expressões e expressar emoções. O treinamento é necessário, quando o plano é entrar para o universo dos namoros. O filme não aprofunda a questão diagnóstica, mas pincela algumas dificuldades comuns aos portadores da síndrome. Ela quer ser reconhecida em sua fase adulta, como pessoa capaz, quer namorar. O filme não revela aptidões específicas de Jane, como costuma ocorrer nesses casos. Sabemos apenas de seu talento como estilista, sem termos noção de algum direcionamento específico de sua inteligência. Asperger é uma condição neurológica do espectro autista caracterizada por dificuldades significativas na interação social e comunicação não-verbal, além de padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos. Difere de outros transtornos do espectro autista pelo desenvolvimento típico da linguagem e cognição. Embora não seja fundamental para o diagnóstico, ser fisicamente desajeitado e ter uma linguagem atípica ou excêntrica  são características frequentemente citadas pelas pessoas com a síndrome. Em geral, os Aspergers têm inteligência notável, o que não podemos constatar em Jane. Embora, algumas passagens mostrem seu interesse por leitura de temas, como astrologia, por exemplo.