ASSUNTO
Relações afetivas, humanas, detalhismo, aceitação da diferenças,
SINOPSE
Amélie Poulain é uma jovem tímida mas simpática que trabalha como garçonete em um café de Paris e mora sozinha. Divide seu tempo entre as visitas a seu pai e pequenos prazeres, como jogar pedrinhas no rio (fazendo as pedrinhas quicarem na superfície da água, o que tem uma técnica especial...). Um dia ela descobre, dentro da parede de seu apartamento, uma caixinha com objetos de um menino que morara lá muitos anos antes. Ela resolve achar seu dono para entregar-lhe a caixa, e, comovida com a reação dele, Amélie decide se tornar uma espécie de fada madrinha, se divertindo em alegrar as pessoas a sua volta por meio de pequenos gestos.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Rever
o filme foi uma grata surpresa, pois possibilitou outras perspectivas. Amelié
Polain é uma personagem cativante, principalmente por retratar fatos comuns da
vida cotidiana, particularmente no que se referem aos afetos nossos de cada dia.
A palavra AFETO traz em seu SENTIDO um verbo, pois há o encontro entre o ser
afetado e aquele que afeta. Daí a importância do conceito CONTATO para a abordagem
gestáltica. Nesse sentido, o filme retrata sua importância. Amelié, como todos
nós, conhece o mundo através do contato familiar. Seu mundo particular é construído
através de sua experiência vivida através desses primeiros contatos, que seriam
ampliados em outros contatos sociais. Só que não. Restrita ao convívio com a
mãe neurótica e o pai distante, a menina cresce sem experimentar outras formas
de contato, a não ser o contato com suas fantasias. Aquilo que não é contatado,
não faz parte de seu campo, portanto, não tem existência para si. Por outro lado, seu contexto oferece a
oportunidade de desenvolver grande sensibilidade para perceber os detalhes do e
no mundo.
Na abordagem gestáltica, o homem é visto em sua totalidade, não há separação
entre homem e mundo. O homem só pode ser considerado na relação com o seu meio,
ele nasce e se desenvolve nas relações. Sendo assim, as possibilidades de
diagnóstico se revelam a cada momento, não há um diagnóstico fechado. Ainda que
possamos considerar o diagnóstico psiquiátrico como contorno (possível personalidade
esquiva), nosso foco está no COMO é para o cliente vivenciar tal diagnóstico, como
ela se relaciona com o mundo, COMO ela se impede de fazer contatos nutritivos,
COMO está construída a sua visão de mundo até então. Nesse aspecto, não há uma
relação causal, mas uma visão processual. As situações repetidas ou inacabadas,
as suas formas de contatar (afetar e ser afetada) ou de impedir o contato são
tentativas de “atualização” ou de “acabar o inacabado”. O sintoma é visto como
a melhor forma que a pessoa encontrou para se autorregular, para sobreviver até
então. Nesse aspecto, a terapia pode ser vista como um aprendizado, que explora
o potencial do indivíduo em outros contextos. Podemos considerar como possivel
intervenção, por exemplo, o favorecimento de outras formas de contato ao
cliente, para que ele amplie seu potencial criativo. Podemos pensar o vizinho
pintor no papel do psicoterapeuta, como aquele que observa, sinaliza e favorece.
Em diferentes momentos, ele aponta outras perspectivas de contato, ao revelar o
que para ele é óbvio. Ele não é direto, mas sempre comunica algo que a faz
refletir e se dar conta de novas possibilidades. Outro aspecto importante no
filme está na busca peculiar de Amelié se integrar ao meio em que vive. Uma
narração em off nos apresenta outros personagens e suas particularidades,
marcando assim as diferenças claras entre eles. Independente de suas neuroses,
há um olhar simpático para as diferenças retratadas. Já adulta, Amelié é
autônoma, mora sozinha, trabalha, e, embora ela se mantenha distante, revela um
potencial perceptivo peculiar. E, é através desse potencial, que Amelié
descobre sua forma de contatar o mundo. Ao perceber a necessidade do outro, ela
percebe-se capaz de ajudar, de ser útil, encontrando uma identidade própria em
suas ações. Ainda assim, seu afeto é dirigido de forma anônima, ela afeta e é
afetada sem que haja um contato intimo real, autêntico. De certa forma, a
distância ainda mantém sua “segurança”, não há grandes riscos aparentes. E,
nesse mundo “de fora”, que passa a fazer mais sentido no seu mundo pessoal,
surge um afeto descontrolado e ela se apaixona. Com ajuda de seus novos e sutis
contatos, Amelié vai descobrindo novas possibilidades. Ao perceber o outro, é
possível também se perceber, se arriscar, desenvolvendo assim, novas e
nutritivas formas de contato. O filme tem outras peculiaridades, nos fazendo
refletir sobre contato e sua importância. As críticas são sutis e apontam a
solidão e o isolamento pós-moderno como vilão contemporâneo, num universo que
tem privilegiado o mundo virtual em detrimento do contato autêntico. Importante
ressaltar que O CONTATO é condição primeira para nosso existir, independente de
sua forma. Não há receita, existe apenas uma clareza, existimos e nos
desenvolvemos em nossos contatos, somos parte e todo de nossos encontros com o
mundo. É no encontro do meu mundo com o do outro que me modifico, me
desenvolvo. Não há receita pronta, cada um terá o seu caminho, sua forma
peculiar de encontrar o outro, de contatar o mundo e se desenvolver. A
trajetória retratada é de Amelié, mas não deixa de ilustrar pensamentos,
sensações, facilidades e dificuldades comuns a qualquer ser humano.
Gostei
também de outras perspectivas, diferentes olhares, que poderão ser encontrados
nos links a seguir:
Uma das características da personagem
e que na relação que vai se construído que fazer o bem para as pessoas faz bem
a ela mesma. (...) Entre as questões levantadas, o foco central do filme é a
afetividade que pode ser entendido como a parte da amizade mais aprofundada do
filme.
É um filme que traz o tema da diferença e das
pessoas não facilmente adaptadas.
Amélie conseguiu, mesmo com as notas
desarmônicas de sua infância isolada e seus pais problemáticos, criar uma
canção que fizesse sentido sem abrir mão de sua singularidade. Naquilo em que
tinha maior dificuldade, que se revelava como problema central de sua
existência, as relações humanas, foi onde Amélie (re)significou as suas
vivências e deu um novo colorido à vida. (...) Pode-se ainda
dizer, que o filme ri sarcasticamente da civilização enquanto força que
delimita a singularidade humana, querendo transformá-la em coletividade, isto
é, uma “cultura de rebanho” que faz surgir os “anormais” apenas na medida em
que a normalidade se constitui enquanto aquilo que é comum a todos.
Na verdade, essa mocinha tem um tipo de
personalidade que denominamos de Esquiva. E assim sendo, tem uma desconfiança
nas relações, ela não consegue ‘se entregar’/estar toda nelas; possui um medo
de perder o que ainda nem tem: o amor, por isso vive a procurar sinais de
rejeição para perder antes de ter.
É um filme, que nos leva a reflexão e também a certas psicopatias. É realmente incrivel como ele muda a nossa visão de mundo e forma de nos relacionarmos com as pessoas. Vale a pena conferir!
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