domingo, 18 de março de 2018

Viva - A vida é uma festa!



ASSUNTO

Relações afetivas e familiares, perdas, luto, morte, memória afetiva, Constelação Familiar, autoconhecimento, totalidade, campo, contato (conceitos gestalticos).


SINOPSE

Miguel é um menino de 12 anos que quer muito ser um músico famoso, mas ele precisa lidar com sua família que desaprova seu sonho. Determinado a virar o jogo, ele acaba desencadeando uma série de eventos ligados a um mistério de 100 anos. A aventura, com inspiração no feriado mexicano do Dia dos Mortos, acaba gerando uma extraordinária reunião familiar.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Animação encantadora que ousa falar de morte, real ou simbólica, através de música, cores, poesia e afeto familiar. É impossível permanecer indiferente diante de questões que podem ser tanto singulares, quanto comuns. Ainda, que o enredo tenha como pano de fundo a cultura mexicana, ou, que explore questões particulares da família de Miguel, estamos diante de temas comuns a qualquer família. Sendo assim, há na trama o encontro, ou embate, entre a tradição familiar e os desafios da nova geração. Toda família tem suas próprias regras. Suas crenças e valores são, muitas vezes, desafiados pela nova geração. Miguel não foge a regra, deseja transgredir os limites impostos pela família, pois a música é a arte que já faz parte de quem ele é. É no “dia de muertos”, feriado celebrado pelos mexicanos de um jeito especial, que ele decide ir atrás de seu sonho. No processo de individuação, ou, na busca por sua identidade, Miguel se depara com uma parte que falta na foto da família. Essa parte faltante o leva para o mundo dos mortos.  A morte, ou, os mortos, ganham outra perspectiva, sendo suavizados através da expressão repleta de sons, cores e o clima festivo. Aqui, a chave mestre é o afeto, aquele capaz de manter na memória a lembrança do familiar que partiu. A dor não é o único caminho. Para os mexicanos, é dia de festa, com direito a oferendas diante das fotos dos entes e a família reunida, é um encontro de gerações. Na celebração, o caminho é decorado com pétalas de flores, para que os entes queridos possam visitar suas famílias (o que só é permitido no referido feriado).  Além de homenagear a cultura mexicana, a animação convida o expectador a entrar em contato com seu campo familiar, o que pode promover boas reflexões.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Me chame pelo seu nome

ASSUNTO

Adolescência, despertar da sexualidade, Homossexualidade, diferenças, relações familiares, sociais e afetivas.

SINOPSE

Verão de 1983, norte da Itália. Elio Perlman, um jovem ítalo-americano de 17 anos, passa seus dias na vila de sua família, um antigo casarão do século XVII. Seus dias são repletos de composições ao piano e flertes com sua amiga Marzia. Um dia, Oliver, um charmoso homem de 24 anos, que está fazendo doutorado, chega para ajudar o pai de Elio, um renomado professor, em sua pesquisa sobre cultura greco-romana. Sob o sol do verão italiano, Elio e Oliver descobrem a beleza do despertar de novos desejos que irão mudar as suas vidas para sempre. 

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Pode não agradar, não só pelo tema delicado, mas pelo ritmo lento, principalmente na primeira parte. No entanto, é exatamente pelo ritmo, que o longa proporciona o envolvimento do público no sensível processo de contato entre os protagonistas. “Me chame pelo seu nome” traz em seu título o anúncio do tema que será desdobrado na tela: A entrega no encontro com o outro, tão intensa e arrebatadora, que promoverá  autoconhecimento. Elio é maduro para sua idade e conhecedor de diversos assuntos, mas não deixa de ser adolescente. Como tal, seu corpo e mente sofrem transformações, ele está desabrochando. A chegada de Oliver afeta seu mundo de diferentes formas, o que o deixa confuso.  O despertar de sua sexualidade começa em momentos de tensão, que aos poucos se transformam. A experiência intensa e arrebatadora irá afetar a ambos para sempre. Não é sobre homossexualidade, é uma história de amor, do primeiro amor, simplesmente, amor.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Três anúncios para um crime

ASSUNTO

Relações familiares, sociais e afetivas; abuso de poder, violência, racismo e família disfuncional.

SINOPSE

Inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo brutal assassinato de sua filha, Mildred Hayes (Frances McDormand) decide chamar atenção para o caso não solucionado alugando três outdoors em uma estrada raramente usada. A inesperada atitude repercute em toda a cidade e suas consequências afetam várias pessoas, especialmente a própria Mildred e o Delegado Willoughby (Woody Harrelson), responsável pela investigação.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA


Não existe nada óbvio no longa, ainda que tenha como tema central algo que assim possa parecer. Entre o absurdo e a crueldade da vida, o filme transita entre os acontecimentos e personagens peculiares. Com humor negro surpreendente, recheado de personagens complexos, a trama perpassa entre o bem e o mal, sem escolher lado. Não há herói, nem vilão. A mãe, inconformada com a lentidão das investigações, age de acordo com suas convicções. A cidade é pequena, a lei tem suas particularidades e seus agentes a aplicam de acordo com as próprias convicções. Por outro lado, a culpa é um peso a ser carregado, pois ninguém está livre de cometer erros em ações promovidas pela própria noção de justiça. É bom ressaltar que o crime brutal, tema central da trama, não é a única injustiça retratada. Temos um retrato particular e universal, quando observamos as diferentes reações, ou a falta dela, diante do fato que pode afetar a vida dos personagens. A raiva está nos pequenos e grandes movimentos dos personagens, em diversos momentos da trama. As relações sociais e familiares não estão ausentes, ao contrário, são exploradas.  A pacata cidade do interior se transforma num cenário doente, onde todos têm seus anjos e demônios expostos. Não é sobre a solução de um crime, nem sobre lição de moral. Com humor ácido, o filme denuncia mais do que um crime, provoca o próprio julgamento, confronta tudo que é politicamente correto, incomoda. Um episódio abominável altera a rotina de várias pessoas, desencadeando reações inesperadas. Racismo, abuso de poder, culpa, manipulações afetivas, doenças físicas e/ou mentais, relações familiares disfuncionais são temas que podem provocar diferentes reações no espectador, pela forma que são apresentados. A crueldade, as motivações, os encontros e desencontros, as diferentes provocações e reações suscitadas, nos personagens ou no espectador, podem provocar diferentes reflexões. alvez, muito necessárias, diante das atrocidades e inversão de valores que cada vez mais fazem parte do nosso cotidiano. Confira!

domingo, 28 de janeiro de 2018

A forma da água

ASSUNTO

Xenofobia, racismo, sexismo, homofobia, preconceito, solidão, sexualidade, relações afetivas e sociais.

SINOPSE

Década de 60. Em meio aos grandes conflitos políticos e bélicos e as grandes transformações sociais ocorridas nos Estados Unidos, Elisa (Sally Hawkins), zeladora em um laboratório experimental secreto do governo, conhece e se afeiçoa a uma criatura fantástica mantida presa no local. Para elaborar um arriscado plano de fuga ela recorre a um vizinho (Richard Jenkins) e à colega de trabalho Zelda (Octavia Spencer).


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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Existem filmes que são capazes de nos deixar atônitas em seu desfecho. “A forma da água” não é apenas um deles, pois o suspiro emocionado ainda transbordava, após a conclusão do longa, reverberando por algum tempo. Talvez, tenha sido por sua linguagem poética, delicada, encantadora, que costura fantasia e realidade para falar de sentimentos tão existenciais e necessários ao ser humano. O filme fala, de forma singela, sobre o encontro de diferenças, desnuda a empatia, denuncia diferentes faces da desemboca no amor, simples assim. Da masturbação ao sexo entre seres distintos, o enredo possibilita desconstruções. Para os que se percebem deslocados no mundo, é um poema. Com delicadeza, em contraste com a estupidez humana, a trama desdobra o amor, sem pudor. A água, fonte da vida, não podia estar em melhor lugar para falar e espelhar diferentes emoções do humano, que podem ser refletidas na “criatura”, diante das diferentes conexões, conforme declarado por Guillermo Del Toro:
“A água toma a forma do que quer que a esteja contendo, e embora possa ser tão suave, é também a força mais poderosa e maleável do universo. Isso também é amor, não é?! Não importa em que fôrma colocamos o amor, ele se molda a ela, seja homem, mulher ou criatura”.
 O filme é uma fábula encantadora sobre amor, que dispensa palavras, priorizando os sentidos através das diferentes formas de amar, amor ao próximo, à ciência, à amizade, ao estranho, ao diferente, singular e puro amor. Para os que são incapazes de lidar com as diferenças, que abusam da violência, do sadismo, da moralidade falsa, fica a questão: quem é o monstro? Quem é a criatura que nos ameaça, o desconhecido ou a repressão cotidiana e sádica capaz de sufocar? Cada personagem tem seu próprio espaço, contados através de linguagem verbais e não verbais. O contexto, a guerra fria, a tensão em um mundo dividido, nos lembra outras tantas divisões promovidas em diferentes momentos históricos, em qualquer lugar. O abuso de poder, o machismo, a homofobia, o racismo, o moralismo hipócrita são os “nós” da trama. Elisa (sexismo), Zelda (racismo), Giles (preconceito) e a criatura (xenofobia) representam vítimas do sistema capazes de alinhavar laços afetivos.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Lady Bird, é hora de voar

ASSUNTO

Adolescência, ansiedade, sexualidade, puberdade, relações familiares, sociais e afetivas.

SINOPSE

Christine McPherson (Saoirse Ronan) está no último ano do ensino médio e o que mais deseja é ir fazer faculdade longe de Sacramento, Califórnia, ideia firmemente rejeitada por sua mãe (Laurie Metcalf). Lady Bird, como a garota de forte personalidade exige ser chamada, não se dá por vencida e leva o plano de ir embora adiante mesmo assim. Enquanto sua hora não chega, no entanto, ela se divide entre as obrigações estudantis no colégio católico, o primeiro namoro, típicos rituais de passagem para a vida adulta e inúmeros desentendimentos com a progenitora.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


Indicado para o Oscar, o longa acompanha Lady Bird da passagem da adolescência para a maturidade. A jornada de amadurecimento já foi retratada em outros tantos filmes, o Charme daqui está na forma como acontece. A ansiedade adolescente é evidenciada no processo, sem que seja necessário qualquer diagnóstico. Afinal, é bastante comum que a ansiedade acompanhe a adolescência, sem que precise ser considerada uma patologia. Christine quer voar, é aventureira, sonhadora, dramática, impetuosa e muito desafiadora. A família não está em uma situação financeira privilegiada, a mãe aponta isso a todo instante, diferente do pai, que dá “cobertura” para os sonhos da moça. Mãe e filha vivem às turras, diante dos desafios da vida. Não é muito diferente do que acontece com frequencia: o adolescente elege um dos pais para "parceiro" e o outro como inimigo. Se o inimigo é aquele que tem os pés na realidade, frustrando os devaneios adolescentes, ele vira alvo de enfrentamentos, birras, discussões infindáveis.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O Natal dos Coopers

ASSUNTO

Relações familiares,  afetivas, diferença, valores e crenças.

SINOPSE

O Natal se aproxima e, como acontece em todos os anos, a família Cooper se prepara para a grande ceia na casa dos patriarcas Sam (John Goodman) e Charlotte (Diane Keaton). Só que, em meio ao suposto clima festivo, o casal está prestes a se separar. Seus filhos Hank (Ed Helms) e Eleanor (Olivia Wilde) também enfrentam problemas, já que ele está desempregado e ela mantém um caso com um médico casado. Paralelamente, Emma (Marisa Tomei) tem dificuldade em lidar com a solidão e com a inveja que sente da irmã mais velha, Charlotte, enquanto que o pai delas, Bucky (Alan Arkin) sente-se cada vez mais próximo de Ruby (Amanda Seyfried), a garçonete do restaurante que ele sempre frequenta.

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OLHAR DA PSICOLOGIA

A “magia do Natal” é destaque em muitos filmes do gênero, que insistem em mostrar uma família “perfeita” enfrentando alguma situação ou pessoa do mal, que no final são “afetadas” pelo encanto da ocasião. Só que não, “O Natal dos Coopers” mostra uma família real, com problemas comuns, nos dias que antecedem o encontro natalino, onde serão omitidas as questões pessoais de cada membro. Encontros e desencontros antecedem a noite esperada, seja consigo ou com o outro, com verdades e mentiras que podem provocar risos e incômodos na mesma medida. Nem todos acreditam que o evento possa ser mágico, harmonioso e feliz. Os próprios anfitriões escondem a real situação, pois omitem o abalo na relação do casal, que está em vias de separação. Cada um dos familiares enfrenta problemas pessoais, o que pode fazer o reencontro um momento de pressão, ameaça ou trazer lembranças de situações infelizes, algumas inacabadas. Reunir parentes no natal é momento de infinitas possibilidades, nem sempre tão felizes, como as comumente apresentadas na telona! É momento de atualização, de "fofocas", de "disputas, de encontro de diferenças. O filme apresenta um pouco de cada possível extremo, da conturbada expectativa ao final feliz, do aparentar ao ser. Falar de família é transitar nos extremos, é explorar aspectos que parecem antagônicos, e, podem se revelar complementares. Algo inesperado, incômodo, frustrante ou constrangedor na noite de natal em família, quem não viveu?

sábado, 18 de novembro de 2017

MONSIEUR & MADAME ADELMAN

ASSUNTO

Relação afetiva, familiar e social, família disfuncional, segredo, traição, feminismo, suicídio e alcoolismo.

SINOPSE

Sarah (Doria Tillier) e Victor (Nicolas Bedos) estiveram juntos por 45 anos. No funeral dele, Sarah é abordada por um jornalista que deseja contar a história de seu marido, um renomado escritor, a partir do olhar da mulher que sempre o acompanhou. A partir de então, ela passa a contar as minúcias do relacionamento que tiveram, incluindo segredos bastante íntimos.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


A trama nos convida a desconstruir os ideais de felicidade nas relações afetivas de longa data. Não, o filme está longe de se tornar “receita” de boa relação amorosa. Ao contrário, a trama está repleta de alternativas pouco recomendadas em qualquer relação. É isso que faz do filme um relato possível, verdadeiro, recheado de erros e acertos de uma relação amorosa de 45 anos. Partindo do relato da viúva, acompanhamos a história do casal desde o primeiro encontro, revelando os sabores e dissabores da relação. A perspectiva, que desnuda a intimidade do casal, revela a força da personagem feminina, que desde o início busca o que deseja sem perder o foco . Tudo é contado sem menosprezar o contexto. A cada momento, a trama alinhava a vida social, religiosa e política, apontando possíveis influências do entorno de cada época, na relação que é construída pelo casal. Temos uma mulher à frente de seu tempo, determinada, empenhada e apaixonada, que se torna o pilar da família em construção.

domingo, 29 de outubro de 2017

Os Meyerowitz: Família não se escolhe


ASSUNTO

Relações familiares, afetivas e sociais, alcoolismo, conflitos familiares, legado.

SINOPSE

Nova York. Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman) é o patriarca da família, casado com Maureen (Emma Thompson) e pai de Matthew (Ben Stiller), Danny (Adam Sandler) e Jean (Elizabeth Marvel). Escultor aposentado e extremamente vaidoso, ele fica satisfeito ao saber que está sendo organizada uma exposição para celebrar seu trabalho artístico. Só que, em meio aos preparativos, Harold adoece e faz com que todos os filhos precisem se unir para ajudá-lo a se recuperar, o que resulta em várias situações que colocam a limpo traumas do passado. Danny é um pianista que abandonou a carreira e se dedicou integralmente aos cuidados da filha Eliza (Grace Van Patten), que agora aos 18 anos se mostra completamente independente de seu pai.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA

As peculiaridades de cada membro da família disfuncional podem ser resumidas na frase em destaque da trama: “Somos apegados a ideia que temos de nós mesmos”. Afinal, como tal idéia é construída? Qual é a influência da família de origem nessa construção? Os Meyerowitz podem revelar muito sobre o assunto.  Somos apresentados a família por Danny, o filho estagnado, que abandonou a carreira e se dedicou exclusivamente a educar sua filha. Ao contrário do pai, egoísta e distante, Danny negligencia a si mesmo, priorizando o afeto na relação com a filha. Como muitos adultos do nosso século, após a separação e a ida da filha para a faculdade, ele busca refúgio na casa da família de origem. Seu corpo expressa aquilo que não consegue elaborar, a raiva contida.

Marathon (2005)

ASSUNTO

Autismo, relações familiares e sociais.

SINOPSE

O filme conta a história de um jovem com autismo, chamado Cho-won, que se encontra apenas na corrida. Quando criança, Cho Won regularmente tinha birras, e recusava-se a comunicar com os outros - encontrando consolo em zebras e apenas no lanche coreano, Chocopie. Sua mãe nunca desistiu dele e estava determinada a provar ao mundo que seu filho pode ser normal. Ao envelhecer, ele começa a descobrir a paixão pela corrida e sua mãe está lá para encorajar e apoiar ele. Apesar de ambos sofrerem com a família e de problemas financeiros, eles encontram um antigo campeão de maratona - agora um homem velho letárgico com problemas de alcoolismo, que ajuda Cho-won a se superar.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA:

Contar a história de um autista implica falar de relações familiares e sociais. Em MARATHON não é diferente, acompanharemos a construção e desconstrução dessas relações desde seu nascimento. As dificuldades enfrentadas pelos parentes, pais e irmãos, durante o processo de educação, são apresentadas. A mãe, que se dedica exaustivamente a aproximá-lo do mundo social, carrega também culpa por seus conflitos internos. Acompanhamos as dificuldades de uma família lidar com o autista, da complexidade em sua forma de perceber o mundo, diferente dos neurotípicos (como são considerados os ditos “normais”). A hipersensibilidade sensorial e as comuns crises de ansiedade são retratatadas na trama, que revela muito do universo autista. A mãe procura, incansavelmente, qualquer possibilidade de suporte ao filho, muitas vezes esquecendo-se de si e dos outros membros da família. Como acontece com muitas mães de autista, ela busca sua forma peculiar de ensinar, traduzir e proteger.  Na fase adulta do jovem, ela só deseja que o filho morra um dia antes dela, para que ainda possa ser cuidado por ela. O irmão, muitas vezes preterido, em função das necessidades do autista, revela mágoa em seu comportamento.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Atypical


ASSUNTO

Relações familiares, afetivas, terapêutica e social, Autismo, Asperger. 

SINOPSE

Sam ( Keir Gilchrist) é um jovem autista de 18 anos que está em busca de sua própria independência. Nesta jornada, repleta de desafios, mas que rende algumas risadas, ele e sua família aprendem a lidar com  é tão óbvio assim.



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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Arypical (atípico) é a nova série da Netflix, que traz algumas singularidades do Espectro Autista para o centro do debate, muito mais para familiarizar o público, do que para rotular diferenças. Sam é atípico, não funciona como a maioria, foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na forma branda, o que antes era diagnosticado como Síndrome de Asperger. Difere do autismo clássico, não só pelos sintomas mais leves, mas principalmente por sua capacidade cognitiva, muitas vezes com a inteligência acima da média.  Sua forma de perceber o mundo é apresentada, favorecendo ao espectador compreender melhor o universo autista. Sim, Sam tem uma família comum, que aos poucos conhecemos em sua rotina imperfeita. Todos os personagens são humanos, repletos de conflitos e imperfeições, o que torna a série crível e simpática. A irmã de Sam é sua parceira, sua protetora e amiga. Ela também é atleta e leva muito a sério seu treino diário. Sam freqüenta a psicoterapia, vai à mesma escola da irmã e trabalha numa loja de eletro-eletrônicos. Seu pai trabalha fora e sua mãe abriu mão da carreira para dar suporte às necessidades do filho.  Somos convidados a conhecer o universo de Sam pela ótica autista, uma forma singular de perceber o mundo. Aos poucos, conhecemos a difícil realidade, não só dos familiares, mas da sociedade em geral, no trato com o TEA. A falta de compreensão ou informação sobre a condição autista e suas particularidades pode dificultar as relações, não só da sociedade com o portador, mas também do autista consigo mesmo e com o mundo. Ele se esforça para ser aceito pela sociedade, apesar de não perceber o entorno da mesma forma. Muitas vezes, o TEA desenvolve crises de depressão ou ansiedade, muito antes de compreender a si mesmo e as diferentes formas de perceber o mundo. O diagnóstico e a informação sobre suas particularidades podem favorecer uma vida mais saudável, integrando sua identidade. A série presta um serviço social ao apresentar sintomas e dificuldades reais vivenciadas por Sam e seus familiares. Quase didática, a série costura as relações afetivas e sociais de forma leve, agradável e até engraçada. A primeira temporada deixa o gosto de “quero mais” no espectador, pois além de promover esclarecimentos sobre o TEA, traz conflitos e conquistas de outros personagens bem reais, humanos e imperfeitos como todos nós. Vale conferir.

Os meninos que enganavam os nazistas


ASSUNTO

Relações familiares, sociais, afetivas, discriminação, intolerância, guerra, aprendizagem.


SINOPSE

Durante um período de ocupação nazista na França, os jovens irmãos judeus Maurice (Batyste Fleurial) e Joseph (Dorian Le Clech) embarcam em uma aventura para escapar dos nazistas. Em meio a invasão e a perseguição, eles se monstram espertos, corajosos e inteligentes em sua escapada, tudo com o objetivo de reunir a família mais uma vez.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Numa época na qual os valores se perdem, quando as crianças não são convidadas a enfrentar seus próprios desafios, sendo protegidas em demasia, o filme se torna necessário. Sim, necessário para reflexão de pais educadores e filhos contemporâneos, tão íntimos dos avanços tecnológicos e ao mesmo tempo, tão distantes das necessidades reais. A trama acompanha a saga de dois irmãos diante dos horrores do Holocausto e da segunda Guerra mundial.  Eles pertencem a uma família feliz, unida, amorosa e judia.  Maurice e Joseph descobrem da pior forma possível como a intolerância pode se tornar uma epidemia. Seus colegas de escola, “contaminados” pelo pensamento nazista anti-semita, passam a hostilizá-los da noite para o dia, apenas por ostentarem a identificação judaica. Eles deixam de ser reconhecidos como pessoas, passam a ostentar um rótulo, que os classifica como algo a ser eliminado. Na mesma velocidade da ocupação nazista, a trajetória de vida deles é radicalmente transformada, o mundo exige novas estratégias. A estrutura familiar fica evidenciada na emergência da situação, quando o pai impõe o limite necessário, mesmo que seja preciso separar, agredir, desconstruir ensinamentos, até mesmo sobre a própria identidade. Eles precisam aprender a mentir para sobreviver. Os meninos aprendem com a experiência, sem o suporte físico dos pais, mas apoiados na estrutura fornecida por aquela família amorosa. É um filme lindo, emocionante, delicado. A urgência, de cada dura experiência, prepara-os para o momento seguinte, tornando-os mais fortes. Não é nada fácil, o que fica evidente na fragilidade das crianças, que podem chorar, chamar pela mãe, quase desistir, entretanto, contam com a sorte em momentos de desesperança. A intolerância e violência retratadas na trama são contrastadas com a reação humanitária de Joseph, diante da reação vingativa dos franceses no fim da guerra. Ele mente, ele surpreende, ele aprendeu com a própria dor a não desejar o mesmo para o outro. Ele aprendeu que a diferença não é justificativa para a violência e que todos são iguais, independente da raça, cor ou crença. Ele nos alerta sobre a necessidade de respeitarmos as diferenças, aceitando múltiplas singularidades do ser. As crianças experimentam situações dolorosas, que os ensinam sobre si mesmos, descortinando o próprio potencial.  

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Preto e branco

ASSUNTO

Alcoolismo, dependência química, racismo, luto, disputa de guarda de menor, direito, relações familiares, afetivas e sociais.

SINOPSE

Ao mesmo tempo que se esforça para superar a recente perda da mulher, Elliot Anderson (Kevin Costner)  tenta dar o melhor de si a Eloise (Jillian Estell), a neta que vive aos seus cuidados desde a trágica morte da sua filha. Apesar das dificuldades inerentes à sua condição de viúvo e avô, a criança tornou-se a sua única razão de viver e o que o motiva a continuar. Quando We-we (Octavia Spencer), a avó da criança, o informa das intenções de obter a custódia partilhada, Elliot recusa-se terminantemente a aceitar. De um momento para o outro, a pequena Eloise é forçada a dividir-se entre as duas famílias que lutam pela sua atenção e pelo que consideram ser o melhor. Quando a rivalidade entre os dois sexagenários chega à barra do tribunal, eles vêem-se confrontados com algumas das suas crenças e preconceitos mais enraizados.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


O título original é “Back or White”, usando “or” (o – em português) no lugar do “e” do título em português. O que agrada de cara, tendo em vista que muito do trabalho terapêutico da Abordagem Gestáltica está focado na integração de polaridades. Ou seja, priorizamos a noção integrativa oferecida pelo aditivo “e”, em detrimento das dicotomias promovidas pelo “ou”. Afinal, por que não as duas coisas? A visão dicotômica de conceitos como, “preto ou branco”, “bom e mau”, “verdade ou mentira” são restritivas e estão sendo revisadas, muitas vezes sendo substituídas por noções mais integrativas. O filme desenvolve essa idéia, ainda que o processo tente argumentar uma divisão racista em nome da vitória nos tribunais. Mas, o drama é mais que isso. Fala de luto, de alcoolismo, de dependência química, de mágoas, de relações familiares, de super proteção, de construção de afetos e desafetos.

O mínimo para viver

ASSUNTO

Anorexia, distúrbios alimentares, família disfuncional, relações familiares, afetivas e sociais.

SINOPSE

Uma jovem (Lily Collins) está lidando com um problema que afeta muitos jovens no mundo: a anorexia. Sem perspectivas de se livrar da doença e ter uma vida feliz e saudável, a moça passa os dias sem esperança. Porém, quando ela encontra um médico (Keanu Reeves) não convencional que a desafia a enfrentar sua condição e abraçar a vida, tudo pode mudar.


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O OLHAR DA PSICOLOGIA


Anorexia, entre outros distúrbios alimentares, é tema central do filme. Ellen, 20 anos, tem anorexia, uma doença que afeta também aos familiares.   Antes de tudo, vamos falar sobre transtornos alimentares, um mal que atinge parcela significativa da população. Os transtornos alimentares envolvem fatores biológicos, psicológicos, familiares, socioculturais, genéticos e de personalidade. A anorexia é um dos principais transtornos alimentares contemporâneos, no qual a pessoa vive o peso ou a forma do corpo de uma forma distorcida, se recusando a manter o peso corporal dentro do mínimo considerado adequado para sua idade e altura. Ellen acredita ter a situação sob controle, quando seu corpo revela o contrário, uma aparência esquelética e assustadora. A família, embora seja apresentada como disfuncional, está abalada, tentando ajudar da melhor forma possível, para cada um. Filha de pais separados, Ellen morou mais tempo com a mãe e sua namorada, mas foi enviada para a casa do pai, no momento em que a mãe não suportou mais lidar com a questão da anorexia. Apesar do pai ausente, assistimos o bom convívio com sua meia irmã e o esforço de sua madrasta em buscar ajuda para a enteada. Embora a família seja apontada como conflituosa e disfuncional, em nenhum momento são citados como responsáveis, nem é o foco da trama. Que, aliás, explora mais as questões do ponto de vista daqueles acometidos pelo transtorno. “Aqueles” são os outros personagens em tratamento, que embora sejam pano de fundo, também retratam suas angústias. O encontro com eles apresenta outras perspectivas do transtorno, seja pelos sintomas ou pela singularidade de cada personagem ao  lidar com o problema.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Mais forte que bombas

ASSUNTO

Relações familiares, segredo, luto, aparências, fobia social, suicídio, depressão, conflitos familiares e existenciais.

SINOPSE

Uma exposição celebrando a fotógrafa Isabelle Reed (Isabelle Huppert) três anos após sua morte prematura traz seu filho mais velho Jonah (Jesse Eisenberg) de volta para a casa da família – forçando-o a passar mais tempo com seu pai Gene (Gabriel Byrne) e com seu recluso irmão mais novo Conrad (Devin Druid) do que ele passou em anos. Com os três sob o mesmo teto, Gene tenta desesperadamente conectar-se com seus dois filhos, mas eles lutam para reconciliar seus sentimentos em relação à mulher que eles se lembram de maneira tão diferente.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


O título pode nos remeter a diferentes perspectivas do drama, como a explosão que causa em cada personagem ou  no espectador. A fotógrafa falecida é o elo entre os personagens.  O ofício de retratar situações de guerra, envolvendo os afetados, inaugura uma questão pertinente, ao revelar uma linha tênue entre o que é e o que pode aparentar. Tal questionamento nos remete a outras guerras do cotidiano, seja com os semelhantes, ou, consigo mesmo. Afinal, entre o que aparentamos e o que somos pode haver uma distância considerável.  É exatamente aí que identificamos um sentimento comum a muitos personagens contemporâneos, reais, que não compreendem as aparências comumente retratadas, sentem-se particularmente deslocados.  A lembrança da falecida é retratada por diferentes pontos de vista. As diferentes formas de lidar com o luto e suas complicações são evocadas no momento de reunir material para a exposição dos trabalhos. O  marido, que tem problemas como filho adolescente, convida o filho casado não só para ajudá-lo a separar o material, mas principalmente para ajudá-lo na comunicação com o mais novo.  As diferentes formas de lidar com a falta que aquela mulher faz se desdobra.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Um instante de amor

ASSUNTO

Sexualidade feminina, desejo reprimido, histeria, psicossomática.

SINOPSE

França, década de 1950. Gabrielle nasceu e cresceu numa pequena aldeia, numa época em que ser mulher significava deixar a casa dos pais e ser entregue a um marido. Ser apenas esposa e mãe era um destino quase inevitável. Conscientes da sua rebeldia, os pais resolvem casá-la com o José, um trabalhador esforçado de origem espanhola, com a missão de fazer dela uma mulher respeitável. Apesar de toda a dedicação de José, ela nunca se entrega de corpo e alma ao marido, por quem sente algum desprezo. Alguns anos depois, sofrendo de dores crônicas nos rins, Gabrielle é enviada para uma estância termal nos Alpes. Lá, conhece André Sauvage, um ex-soldado ferido na guerra da Indochina, por quem se apaixona ao primeiro olhar. Durante as seis semanas seguintes, vai viver um amor que nunca julgou possível…

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Por um instante, somos convidados a refletir sobre diferentes momentos do papel feminino ao longo história. Antes de somente estranhar o comportamento de Gabrielle, é preciso ter um olhar aguçado para a sexualidade feminina, contextualizando, não só o ambiente familiar, mas também sua época. A burguesia agrícola é palco para que o mito da histeria tenha lugar.  Gabbrielle desafia regras e convenções, expressa desejos reprimidos descontroladamente.  Tida como louca, ela oscila entre momentos de melancolia e o desejo de romper barreiras, a apatia e o ataque de fúria. A paixão, tão comum nas transformações hormonais femininas se torna ato, assédio. A frustração, com a constatação de sua paixão platônica, se torna surto, desordem, realidade cruel. Dentro de uma sociedade convencional, sua feminilidade indomável é direcionada para soluções burguesas, a escolha de um casamento arranjado como opção, aprisionando o desejo. Sua sexualidade está entrelaçada com a paixão, desejo e amor não podem ser separados. Para não ser internada, ela aceita se casar, mas sufoca seu desejo, sua sexualidade latente. Ela impõe regras, mantém distância afetiva do marido. É no momento de cuidar de sua doença renal, uma metáfora de seu desejo encarcerado, que Gabrielle volta a fantasiar, amando o amor, sonhando ser amada, vivendo sua fantasia de amor perfeito, apaixonado, indomável.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Querida vida (Dear Zindagi)

ASSUNTO

Relações familiares, afetivas, sociais e terapêutica. Processo terapêutico, conflitos existenciais e familiares, perfeccionismo, compras compulsivas, insônia, ansiedade.

SINOPSE

Filme indiano de 2016, Dear Zindagi está disponível legendado no NETFLIX. Kaira é uma cinegrafista em busca de uma vida perfeita. Após alguns entraves relacionais, ela não consegue mais dormir. Por acaso, escuta a palestra de um psicoterapeuta, algumas frases dele fazem sentido. Ela, então, procura Jug, um pensador não-convencional e psicólogo, quem irá ajude-la a ganhar uma nova perspectiva sobre a vida. Aos poucos, ela vai descobrindo que  felicidade é encontrar conforto nas imperfeições da vida.

TRAILER




O OLHAR DA PSICOLOGIA


A título de curiosidade, a palavra “Zindagi” quer dizer “vida”, o que sugere a tradução “Querida vida”. Assim, fica mais fácil falar sobre a trama, que versa sobre a vida de Kaira, alguém que em busca da perfeição, está, de fato, de mal com a vida. Seus relacionamentos são conturbados, logo o público torce pelo esperado “final feliz” com o amor, seja qual for. Opa! Seja qual for? Não! A esperança é que seja algum herói para salvar a mocinha das dificuldades da vida, só que não! O filme acompanha encontros e desencontros, perdas e ganhos, oportunidades e dificuldade de uma pessoa normal: Kaira. Muitos poderão se perguntar para que serve um terapeuta se a pessoa é normal? Pois é, terapia é um espaço pessoal necessário em diferentes situações, principalmente quando não estamos conseguindo lidar com alguma questão, chegando ao ponto do organismo manifestar “sintomas”. Como já dito em outros posts, os “sintomas” são vistos - pela Abordagem Gestáltica (linha ou abordagem psicológica) – como a melhor forma que o organismo encontra para manter o equilíbrio. Ou seja, o organismo oferece a oportunidade de percebermos que algo interrompe o fluxo natural de nossa autorrealização. O sintoma nos mantém autorregulado, sinalizando que algo em nosso caminho não vai bem, algo está interrompendo o fluxo saudável. Benditos sintomas que servem como alerta! Pode ser o momento de se buscar ajuda para lidar com questões difíceis, muitas vezes insuportáveis. Então, voltando ao filme, após algumas perdas, obstáculos e desvios de caminho, Kaira se depara, inesperadamente, com a palestra do psicólogo Jug, alguém que tem uma forma diferente de se expressar, o que a agrada de pronto. A insônia, a compulsão por compras, a dificuldade de lidar com suas relações afetivas dão sinais de que ela precisa buscar ajuda, o psicoterapeuta pode ser uma boa opção.