Relações afetivas, familiares e sociais, auto-descoberta
SINOPSE
2000 - A dona de casa Rosalba (Licia Maglietta) está viajando em uma excursão de ônibus com sua família. Ao parar em um restaurante à beira da estrada, ela é esquecida pelo marido e pelos filhos. Uma situação propícia para que possa fazer o que sempre quis: conhecer Veneza. Pede carona, deixando apenas um evasivo recado na secretária eletrônica do marido: "Férias". Mas incidentes transformam a rápida escapada em algo mais duradouro. Enquanto isso, o marido contrata um encanador fanático por histórias de detetive para ir atrás da mulher. Mas Rosalba já organizou sua nova vida: arrumou um emprego, divide um apartamento com um garçom finlandês, ganhou a amizade da vizinha, voltou a tocar acordeão. Quando o encanador-detetive a encontra, ele também percebe que a vida pode ser muito mais divertida do que parece.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Também recomendado por Cláudia Távora, em seu artigo “Três ensaios sobre o self: Intencionalidade, crise e mudança”, que foi publicado no livro “Encontros”, IGSP, o filme revela muito sobre nossas relações com e no mundo. Promovendo diversas reflexões, a trama nos convida a pensar sobre o nosso funcionamento no mundo, nossas possíveis acomodações, nossos sonhos esquecidos, nossa necessidade ambígua de “voar em segurança”. Estamos falando daquela necessidade de mudança que nos causa medo, ela é necessária e também assustadora. Auto-descoberta é o ponto forte do filme. Gosto do pensamento que des-cobre, no sentido de revelar, tirar aquilo que cobre. Pois é assim com Rosalba, que em momento de crise, aproveita a oportunidade para se re-conhecer, se re-conectar a si mesma, se re-descobrir. E, como esse é um processo que se faz nos contatos, foi preciso também existir novos e nutritivos contatos capazes de promover seu crescimento. Explico, Rosalba é esquecida por sua família, num momento bastante simbólico. Para alguém que vive em função do seu contexto (casamento/ família), é exatamente sua preocupação - em recuperar a aliança que havia caído no vaso sanitário - que fez com que se perdesse o ônibus. Entretanto, nem a organização da excursão nem sua família percebem sua falta. Como seria sentir que sua ausência não foi notada? Como é perceber sua “não existência” para o outro a quem dedicamos nossa vida? Para muitos, poderia ser um momento de tristeza sem fim, perceber que a própria família não sente sua falta. Ainda mais, quando a pessoa se anula em favor dessa família. Fora do contexto familiar, onde sua presença se faz de outra forma, ela deixa de ser notada, percebida, considerada. Momento difícil para qualquer pessoa em qualquer momento.