sábado, 18 de novembro de 2017

MONSIEUR & MADAME ADELMAN

ASSUNTO

Relação afetiva, familiar e social, família disfuncional, segredo, traição, feminismo, suicídio e alcoolismo.

SINOPSE

Sarah (Doria Tillier) e Victor (Nicolas Bedos) estiveram juntos por 45 anos. No funeral dele, Sarah é abordada por um jornalista que deseja contar a história de seu marido, um renomado escritor, a partir do olhar da mulher que sempre o acompanhou. A partir de então, ela passa a contar as minúcias do relacionamento que tiveram, incluindo segredos bastante íntimos.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


A trama nos convida a desconstruir os ideais de felicidade nas relações afetivas de longa data. Não, o filme está longe de se tornar “receita” de boa relação amorosa. Ao contrário, a trama está repleta de alternativas pouco recomendadas em qualquer relação. É isso que faz do filme um relato possível, verdadeiro, recheado de erros e acertos de uma relação amorosa de 45 anos. Partindo do relato da viúva, acompanhamos a história do casal desde o primeiro encontro, revelando os sabores e dissabores da relação. A perspectiva, que desnuda a intimidade do casal, revela a força da personagem feminina, que desde o início busca o que deseja sem perder o foco . Tudo é contado sem menosprezar o contexto. A cada momento, a trama alinhava a vida social, religiosa e política, apontando possíveis influências do entorno de cada época, na relação que é construída pelo casal. Temos uma mulher à frente de seu tempo, determinada, empenhada e apaixonada, que se torna o pilar da família em construção.

domingo, 29 de outubro de 2017

Os Meyerowitz: Família não se escolhe


ASSUNTO

Relações familiares, afetivas e sociais, alcoolismo, conflitos familiares, legado.

SINOPSE

Nova York. Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman) é o patriarca da família, casado com Maureen (Emma Thompson) e pai de Matthew (Ben Stiller), Danny (Adam Sandler) e Jean (Elizabeth Marvel). Escultor aposentado e extremamente vaidoso, ele fica satisfeito ao saber que está sendo organizada uma exposição para celebrar seu trabalho artístico. Só que, em meio aos preparativos, Harold adoece e faz com que todos os filhos precisem se unir para ajudá-lo a se recuperar, o que resulta em várias situações que colocam a limpo traumas do passado. Danny é um pianista que abandonou a carreira e se dedicou integralmente aos cuidados da filha Eliza (Grace Van Patten), que agora aos 18 anos se mostra completamente independente de seu pai.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA

As peculiaridades de cada membro da família disfuncional podem ser resumidas na frase em destaque da trama: “Somos apegados a ideia que temos de nós mesmos”. Afinal, como tal idéia é construída? Qual é a influência da família de origem nessa construção? Os Meyerowitz podem revelar muito sobre o assunto.  Somos apresentados a família por Danny, o filho estagnado, que abandonou a carreira e se dedicou exclusivamente a educar sua filha. Ao contrário do pai, egoísta e distante, Danny negligencia a si mesmo, priorizando o afeto na relação com a filha. Como muitos adultos do nosso século, após a separação e a ida da filha para a faculdade, ele busca refúgio na casa da família de origem. Seu corpo expressa aquilo que não consegue elaborar, a raiva contida.

Marathon (2005)

ASSUNTO

Autismo, relações familiares e sociais.

SINOPSE

O filme conta a história de um jovem com autismo, chamado Cho-won, que se encontra apenas na corrida. Quando criança, Cho Won regularmente tinha birras, e recusava-se a comunicar com os outros - encontrando consolo em zebras e apenas no lanche coreano, Chocopie. Sua mãe nunca desistiu dele e estava determinada a provar ao mundo que seu filho pode ser normal. Ao envelhecer, ele começa a descobrir a paixão pela corrida e sua mãe está lá para encorajar e apoiar ele. Apesar de ambos sofrerem com a família e de problemas financeiros, eles encontram um antigo campeão de maratona - agora um homem velho letárgico com problemas de alcoolismo, que ajuda Cho-won a se superar.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA:

Contar a história de um autista implica falar de relações familiares e sociais. Em MARATHON não é diferente, acompanharemos a construção e desconstrução dessas relações desde seu nascimento. As dificuldades enfrentadas pelos parentes, pais e irmãos, durante o processo de educação, são apresentadas. A mãe, que se dedica exaustivamente a aproximá-lo do mundo social, carrega também culpa por seus conflitos internos. Acompanhamos as dificuldades de uma família lidar com o autista, da complexidade em sua forma de perceber o mundo, diferente dos neurotípicos (como são considerados os ditos “normais”). A hipersensibilidade sensorial e as comuns crises de ansiedade são retratatadas na trama, que revela muito do universo autista. A mãe procura, incansavelmente, qualquer possibilidade de suporte ao filho, muitas vezes esquecendo-se de si e dos outros membros da família. Como acontece com muitas mães de autista, ela busca sua forma peculiar de ensinar, traduzir e proteger.  Na fase adulta do jovem, ela só deseja que o filho morra um dia antes dela, para que ainda possa ser cuidado por ela. O irmão, muitas vezes preterido, em função das necessidades do autista, revela mágoa em seu comportamento.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Atypical


ASSUNTO

Relações familiares, afetivas, terapêutica e social, Autismo, Asperger. 

SINOPSE

Sam ( Keir Gilchrist) é um jovem autista de 18 anos que está em busca de sua própria independência. Nesta jornada, repleta de desafios, mas que rende algumas risadas, ele e sua família aprendem a lidar com  é tão óbvio assim.



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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Arypical (atípico) é a nova série da Netflix, que traz algumas singularidades do Espectro Autista para o centro do debate, muito mais para familiarizar o público, do que para rotular diferenças. Sam é atípico, não funciona como a maioria, foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na forma branda, o que antes era diagnosticado como Síndrome de Asperger. Difere do autismo clássico, não só pelos sintomas mais leves, mas principalmente por sua capacidade cognitiva, muitas vezes com a inteligência acima da média.  Sua forma de perceber o mundo é apresentada, favorecendo ao espectador compreender melhor o universo autista. Sim, Sam tem uma família comum, que aos poucos conhecemos em sua rotina imperfeita. Todos os personagens são humanos, repletos de conflitos e imperfeições, o que torna a série crível e simpática. A irmã de Sam é sua parceira, sua protetora e amiga. Ela também é atleta e leva muito a sério seu treino diário. Sam freqüenta a psicoterapia, vai à mesma escola da irmã e trabalha numa loja de eletro-eletrônicos. Seu pai trabalha fora e sua mãe abriu mão da carreira para dar suporte às necessidades do filho.  Somos convidados a conhecer o universo de Sam pela ótica autista, uma forma singular de perceber o mundo. Aos poucos, conhecemos a difícil realidade, não só dos familiares, mas da sociedade em geral, no trato com o TEA. A falta de compreensão ou informação sobre a condição autista e suas particularidades pode dificultar as relações, não só da sociedade com o portador, mas também do autista consigo mesmo e com o mundo. Ele se esforça para ser aceito pela sociedade, apesar de não perceber o entorno da mesma forma. Muitas vezes, o TEA desenvolve crises de depressão ou ansiedade, muito antes de compreender a si mesmo e as diferentes formas de perceber o mundo. O diagnóstico e a informação sobre suas particularidades podem favorecer uma vida mais saudável, integrando sua identidade. A série presta um serviço social ao apresentar sintomas e dificuldades reais vivenciadas por Sam e seus familiares. Quase didática, a série costura as relações afetivas e sociais de forma leve, agradável e até engraçada. A primeira temporada deixa o gosto de “quero mais” no espectador, pois além de promover esclarecimentos sobre o TEA, traz conflitos e conquistas de outros personagens bem reais, humanos e imperfeitos como todos nós. Vale conferir.

Os meninos que enganavam os nazistas


ASSUNTO

Relações familiares, sociais, afetivas, discriminação, intolerância, guerra, aprendizagem.


SINOPSE

Durante um período de ocupação nazista na França, os jovens irmãos judeus Maurice (Batyste Fleurial) e Joseph (Dorian Le Clech) embarcam em uma aventura para escapar dos nazistas. Em meio a invasão e a perseguição, eles se monstram espertos, corajosos e inteligentes em sua escapada, tudo com o objetivo de reunir a família mais uma vez.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Numa época na qual os valores se perdem, quando as crianças não são convidadas a enfrentar seus próprios desafios, sendo protegidas em demasia, o filme se torna necessário. Sim, necessário para reflexão de pais educadores e filhos contemporâneos, tão íntimos dos avanços tecnológicos e ao mesmo tempo, tão distantes das necessidades reais. A trama acompanha a saga de dois irmãos diante dos horrores do Holocausto e da segunda Guerra mundial.  Eles pertencem a uma família feliz, unida, amorosa e judia.  Maurice e Joseph descobrem da pior forma possível como a intolerância pode se tornar uma epidemia. Seus colegas de escola, “contaminados” pelo pensamento nazista anti-semita, passam a hostilizá-los da noite para o dia, apenas por ostentarem a identificação judaica. Eles deixam de ser reconhecidos como pessoas, passam a ostentar um rótulo, que os classifica como algo a ser eliminado. Na mesma velocidade da ocupação nazista, a trajetória de vida deles é radicalmente transformada, o mundo exige novas estratégias. A estrutura familiar fica evidenciada na emergência da situação, quando o pai impõe o limite necessário, mesmo que seja preciso separar, agredir, desconstruir ensinamentos, até mesmo sobre a própria identidade. Eles precisam aprender a mentir para sobreviver. Os meninos aprendem com a experiência, sem o suporte físico dos pais, mas apoiados na estrutura fornecida por aquela família amorosa. É um filme lindo, emocionante, delicado. A urgência, de cada dura experiência, prepara-os para o momento seguinte, tornando-os mais fortes. Não é nada fácil, o que fica evidente na fragilidade das crianças, que podem chorar, chamar pela mãe, quase desistir, entretanto, contam com a sorte em momentos de desesperança. A intolerância e violência retratadas na trama são contrastadas com a reação humanitária de Joseph, diante da reação vingativa dos franceses no fim da guerra. Ele mente, ele surpreende, ele aprendeu com a própria dor a não desejar o mesmo para o outro. Ele aprendeu que a diferença não é justificativa para a violência e que todos são iguais, independente da raça, cor ou crença. Ele nos alerta sobre a necessidade de respeitarmos as diferenças, aceitando múltiplas singularidades do ser. As crianças experimentam situações dolorosas, que os ensinam sobre si mesmos, descortinando o próprio potencial.  

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Preto e branco

ASSUNTO

Alcoolismo, dependência química, racismo, luto, disputa de guarda de menor, direito, relações familiares, afetivas e sociais.

SINOPSE

Ao mesmo tempo que se esforça para superar a recente perda da mulher, Elliot Anderson (Kevin Costner)  tenta dar o melhor de si a Eloise (Jillian Estell), a neta que vive aos seus cuidados desde a trágica morte da sua filha. Apesar das dificuldades inerentes à sua condição de viúvo e avô, a criança tornou-se a sua única razão de viver e o que o motiva a continuar. Quando We-we (Octavia Spencer), a avó da criança, o informa das intenções de obter a custódia partilhada, Elliot recusa-se terminantemente a aceitar. De um momento para o outro, a pequena Eloise é forçada a dividir-se entre as duas famílias que lutam pela sua atenção e pelo que consideram ser o melhor. Quando a rivalidade entre os dois sexagenários chega à barra do tribunal, eles vêem-se confrontados com algumas das suas crenças e preconceitos mais enraizados.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


O título original é “Back or White”, usando “or” (o – em português) no lugar do “e” do título em português. O que agrada de cara, tendo em vista que muito do trabalho terapêutico da Abordagem Gestáltica está focado na integração de polaridades. Ou seja, priorizamos a noção integrativa oferecida pelo aditivo “e”, em detrimento das dicotomias promovidas pelo “ou”. Afinal, por que não as duas coisas? A visão dicotômica de conceitos como, “preto ou branco”, “bom e mau”, “verdade ou mentira” são restritivas e estão sendo revisadas, muitas vezes sendo substituídas por noções mais integrativas. O filme desenvolve essa idéia, ainda que o processo tente argumentar uma divisão racista em nome da vitória nos tribunais. Mas, o drama é mais que isso. Fala de luto, de alcoolismo, de dependência química, de mágoas, de relações familiares, de super proteção, de construção de afetos e desafetos.

O mínimo para viver

ASSUNTO

Anorexia, distúrbios alimentares, família disfuncional, relações familiares, afetivas e sociais.

SINOPSE

Uma jovem (Lily Collins) está lidando com um problema que afeta muitos jovens no mundo: a anorexia. Sem perspectivas de se livrar da doença e ter uma vida feliz e saudável, a moça passa os dias sem esperança. Porém, quando ela encontra um médico (Keanu Reeves) não convencional que a desafia a enfrentar sua condição e abraçar a vida, tudo pode mudar.


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O OLHAR DA PSICOLOGIA


Anorexia, entre outros distúrbios alimentares, é tema central do filme. Ellen, 20 anos, tem anorexia, uma doença que afeta também aos familiares.   Antes de tudo, vamos falar sobre transtornos alimentares, um mal que atinge parcela significativa da população. Os transtornos alimentares envolvem fatores biológicos, psicológicos, familiares, socioculturais, genéticos e de personalidade. A anorexia é um dos principais transtornos alimentares contemporâneos, no qual a pessoa vive o peso ou a forma do corpo de uma forma distorcida, se recusando a manter o peso corporal dentro do mínimo considerado adequado para sua idade e altura. Ellen acredita ter a situação sob controle, quando seu corpo revela o contrário, uma aparência esquelética e assustadora. A família, embora seja apresentada como disfuncional, está abalada, tentando ajudar da melhor forma possível, para cada um. Filha de pais separados, Ellen morou mais tempo com a mãe e sua namorada, mas foi enviada para a casa do pai, no momento em que a mãe não suportou mais lidar com a questão da anorexia. Apesar do pai ausente, assistimos o bom convívio com sua meia irmã e o esforço de sua madrasta em buscar ajuda para a enteada. Embora a família seja apontada como conflituosa e disfuncional, em nenhum momento são citados como responsáveis, nem é o foco da trama. Que, aliás, explora mais as questões do ponto de vista daqueles acometidos pelo transtorno. “Aqueles” são os outros personagens em tratamento, que embora sejam pano de fundo, também retratam suas angústias. O encontro com eles apresenta outras perspectivas do transtorno, seja pelos sintomas ou pela singularidade de cada personagem ao  lidar com o problema.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Mais forte que bombas

ASSUNTO

Relações familiares, segredo, luto, aparências, fobia social, suicídio, depressão, conflitos familiares e existenciais.

SINOPSE

Uma exposição celebrando a fotógrafa Isabelle Reed (Isabelle Huppert) três anos após sua morte prematura traz seu filho mais velho Jonah (Jesse Eisenberg) de volta para a casa da família – forçando-o a passar mais tempo com seu pai Gene (Gabriel Byrne) e com seu recluso irmão mais novo Conrad (Devin Druid) do que ele passou em anos. Com os três sob o mesmo teto, Gene tenta desesperadamente conectar-se com seus dois filhos, mas eles lutam para reconciliar seus sentimentos em relação à mulher que eles se lembram de maneira tão diferente.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


O título pode nos remeter a diferentes perspectivas do drama, como a explosão que causa em cada personagem ou  no espectador. A fotógrafa falecida é o elo entre os personagens.  O ofício de retratar situações de guerra, envolvendo os afetados, inaugura uma questão pertinente, ao revelar uma linha tênue entre o que é e o que pode aparentar. Tal questionamento nos remete a outras guerras do cotidiano, seja com os semelhantes, ou, consigo mesmo. Afinal, entre o que aparentamos e o que somos pode haver uma distância considerável.  É exatamente aí que identificamos um sentimento comum a muitos personagens contemporâneos, reais, que não compreendem as aparências comumente retratadas, sentem-se particularmente deslocados.  A lembrança da falecida é retratada por diferentes pontos de vista. As diferentes formas de lidar com o luto e suas complicações são evocadas no momento de reunir material para a exposição dos trabalhos. O  marido, que tem problemas como filho adolescente, convida o filho casado não só para ajudá-lo a separar o material, mas principalmente para ajudá-lo na comunicação com o mais novo.  As diferentes formas de lidar com a falta que aquela mulher faz se desdobra.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Um instante de amor

ASSUNTO

Sexualidade feminina, desejo reprimido, histeria, psicossomática.

SINOPSE

França, década de 1950. Gabrielle nasceu e cresceu numa pequena aldeia, numa época em que ser mulher significava deixar a casa dos pais e ser entregue a um marido. Ser apenas esposa e mãe era um destino quase inevitável. Conscientes da sua rebeldia, os pais resolvem casá-la com o José, um trabalhador esforçado de origem espanhola, com a missão de fazer dela uma mulher respeitável. Apesar de toda a dedicação de José, ela nunca se entrega de corpo e alma ao marido, por quem sente algum desprezo. Alguns anos depois, sofrendo de dores crônicas nos rins, Gabrielle é enviada para uma estância termal nos Alpes. Lá, conhece André Sauvage, um ex-soldado ferido na guerra da Indochina, por quem se apaixona ao primeiro olhar. Durante as seis semanas seguintes, vai viver um amor que nunca julgou possível…

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Por um instante, somos convidados a refletir sobre diferentes momentos do papel feminino ao longo história. Antes de somente estranhar o comportamento de Gabrielle, é preciso ter um olhar aguçado para a sexualidade feminina, contextualizando, não só o ambiente familiar, mas também sua época. A burguesia agrícola é palco para que o mito da histeria tenha lugar.  Gabbrielle desafia regras e convenções, expressa desejos reprimidos descontroladamente.  Tida como louca, ela oscila entre momentos de melancolia e o desejo de romper barreiras, a apatia e o ataque de fúria. A paixão, tão comum nas transformações hormonais femininas se torna ato, assédio. A frustração, com a constatação de sua paixão platônica, se torna surto, desordem, realidade cruel. Dentro de uma sociedade convencional, sua feminilidade indomável é direcionada para soluções burguesas, a escolha de um casamento arranjado como opção, aprisionando o desejo. Sua sexualidade está entrelaçada com a paixão, desejo e amor não podem ser separados. Para não ser internada, ela aceita se casar, mas sufoca seu desejo, sua sexualidade latente. Ela impõe regras, mantém distância afetiva do marido. É no momento de cuidar de sua doença renal, uma metáfora de seu desejo encarcerado, que Gabrielle volta a fantasiar, amando o amor, sonhando ser amada, vivendo sua fantasia de amor perfeito, apaixonado, indomável.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Querida vida (Dear Zindagi)

ASSUNTO

Relações familiares, afetivas, sociais e terapêutica. Processo terapêutico, conflitos existenciais e familiares, perfeccionismo, compras compulsivas, insônia, ansiedade.

SINOPSE

Filme indiano de 2016, Dear Zindagi está disponível legendado no NETFLIX. Kaira é uma cinegrafista em busca de uma vida perfeita. Após alguns entraves relacionais, ela não consegue mais dormir. Por acaso, escuta a palestra de um psicoterapeuta, algumas frases dele fazem sentido. Ela, então, procura Jug, um pensador não-convencional e psicólogo, quem irá ajude-la a ganhar uma nova perspectiva sobre a vida. Aos poucos, ela vai descobrindo que  felicidade é encontrar conforto nas imperfeições da vida.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


A título de curiosidade, a palavra “Zindagi” quer dizer “vida”, o que sugere a tradução “Querida vida”. Assim, fica mais fácil falar sobre a trama, que versa sobre a vida de Kaira, alguém que em busca da perfeição, está, de fato, de mal com a vida. Seus relacionamentos são conturbados, logo o público torce pelo esperado “final feliz” com o amor, seja qual for. Opa! Seja qual for? Não! A esperança é que seja algum herói para salvar a mocinha das dificuldades da vida, só que não! O filme acompanha encontros e desencontros, perdas e ganhos, oportunidades e dificuldade de uma pessoa normal: Kaira. Muitos poderão se perguntar para que serve um terapeuta se a pessoa é normal? Pois é, terapia é um espaço pessoal necessário em diferentes situações, principalmente quando não estamos conseguindo lidar com alguma questão, chegando ao ponto do organismo manifestar “sintomas”. Como já dito em outros posts, os “sintomas” são vistos - pela Abordagem Gestáltica (linha ou abordagem psicológica) – como a melhor forma que o organismo encontra para manter o equilíbrio. Ou seja, o organismo oferece a oportunidade de percebermos que algo interrompe o fluxo natural de nossa autorrealização. O sintoma nos mantém autorregulado, sinalizando que algo em nosso caminho não vai bem, algo está interrompendo o fluxo saudável. Benditos sintomas que servem como alerta! Pode ser o momento de se buscar ajuda para lidar com questões difíceis, muitas vezes insuportáveis. Então, voltando ao filme, após algumas perdas, obstáculos e desvios de caminho, Kaira se depara, inesperadamente, com a palestra do psicólogo Jug, alguém que tem uma forma diferente de se expressar, o que a agrada de pronto. A insônia, a compulsão por compras, a dificuldade de lidar com suas relações afetivas dão sinais de que ela precisa buscar ajuda, o psicoterapeuta pode ser uma boa opção.

domingo, 16 de abril de 2017

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Os 13 Porquês – 13 Reasons Why

ASSUNTO

Depressão, bullying, estupro, assédio, violência, omissão, homofobia, sexualidade, suicídio, relações sociais, afetivas e familiares.

SINOPSE

Uma caixa de sapatos é enviada para Clay (Dylan Minnette) por Hannah (Katheriine Langford), sua amiga e paixão platônica secreta de escola. O jovem se surpreende ao ver o remetente, pois Hannah acabara de se suicidar. Dentro da caixa, há várias fitas cassete, onde a jovem lista os 13 motivos que a levaram a interromper sua vida - além de instruções para elas serem passadas entre os demais envolvidos.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Febre do momento, “OS 13 Porquês” foi baseado no livro homônimo de Jay Asher. Provocando diferentes críticas, algumas favoráveis e muitas contrárias, a série está levantando o assunto em diferentes segmentos da sociedade. Há quem diga que pode se tornar um gatilho para aqueles que se encontram vulneráveis, outros tantos afirmam que os assuntos abordados na trama podem e devem ser discutidos. Indico abaixo links com diferentes opiniões. Por agora, prefiro destacar a importância de falarmos sobre o tema, ou, sobre os temas levantados. Aliás, acho que o aspecto mais positivo da proposta é, de fato, colocar os assuntos abordados em discussão, é o que está acontecendo. As polêmicas estimuladas por sua forma explícita ou pela fraqueza dos argumentos, cenas, etc., aqui não serão discutidos ou julgados. Queremos dividir algumas reflexões motivadas pelo contato com a série. A primeira coisa que chama a atenção foi o tom vingativo apresentado pelo projeto de Hanah, que dilui a responsabilidade entre os colegas (colegas??). Tudo bem, os relatos nos fazem pensar nas possíveis relações tóxicas que enfrentamos, não só na adolescência. Por esse prisma, pode servir como um alerta, um ponto de reflexão para aqueles que funcionam de determinada forma agressiva ou abusiva, sem se dar conta do quanto podem estar machucando o outro. Por outro lado, muitos suicídios cometidos por algum adolescente são por si só motivadores de culpa nos colegas, que se perguntam o que poderiam ter feito, ou deixado de fazer para evitar o desfecho trágico. Há também muito sofrimento para os que ficam, sem que seja necessária uma acusação gravada em fitas cassetes. Ok, a licença poética nos permite considerar a proposta como uma perspectiva possível, para dar voz a quem partiu e promover uma possível reflexão. Entretanto, é preciso refletir como o suicídio de um adolescente pode afetar seu entorno, causando sofrimento e dor aos familiares, amigos e colegas. Concordo com algo que li sobre o assunto, que afirma que o suicídio não é opção, muito menos para vingança.

domingo, 9 de abril de 2017

Simple Simon / No espaço não existem sentimentos

ASSUNTO

Síndrome de Asperger, Relações familiares, afetivas e de casal.

SINOPSE

Dirigido por Andreas Öhman, o filme conta a história de Simon, um jovem de 18 anos que sofre da síndrome de Asperger. Ele gosta do espaço, de ciência e de círculos, mas não consegue entender sentimentos. Ao ver sua vida transformada em caos após seu irmão entrar em depressão após o término de um namoro, Simon embarca em uma missão para conseguir a namorada perfeita pro seu irmão. Simon não entende nada de amor, mas tem um plano cientificamente perfeito. Mas, vítima da Síndrome de Asperger, Simon percebe que a busca é muito mais complicada do que poderia imaginar e fica em dúvida se realmente poderá ajudar Sam.


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Repetição da postagem de 26 de abril de 2014. Filme sueco, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, é uma comédia leve que fala, principalmente, de relações afetivas e as diferenças. Simon tem dificuldade de compreender sentimentos, é portador da síndrome de Asperger. Seu irmão, Sam, é o único a conseguir contatá-lo em seu mundo particular. Seu carinho, sua dedicação fazem com que fale a mesma língua, entrando em sua órbita e se relacionando de forma satisfatória. Para todos os outros não é tão fácil. Os pais não têm a mesma disponibilidade, o que faz com que Simon vá morar como irmão. A namorada não consegue conviver com a diferença e parte, Sam fica deprimido, Simon se desespera. Na tentativa “científica” de solucionar o problema do irmão, Simon “esbarra” em uma garota que não tem o menor problema em lidar com suas limitações. É a partir da compreensão da diferença e da aceitação de Simon como é, que a personagem se torna candidata em potencial a ser namorada do irmão. No desdobrar de seus planos é que Simon descobre que não é somente o irmão que é capaz de ir ao seu encontro, e, que sua estatística “afetiva” não corresponde ao mundo dos afetos. O filme, como bem lembrado por Thamires, é pouco reconhecido ou conhecido pelo público em geral. Entretanto, sua forma delicada e esclarecedora sobre as diferentes formas da existência faz da experiência uma necessidade para qualquer público. Mais do que esclarecer sobre as possibilidades do Transtorno do Espectro Autista, o filme nos fala sobre relações sociais e afetivas, e, sua riqueza nas diferenças. Desconstruir um saber sobre a ideia de normal ou ideal jeito de ser  é um dos melhores trunfos do longa. Procure, vale conferir!

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sábado, 8 de abril de 2017

Léo e Bia

ASSUNTO

Relações sociais, afetivas e familiares.

SINOPSE

Brasilia, 1973.  No auge da ditadura militar, sete amigos, jovens como a cidade em que moram, sonham viver de teatro. Liderado pelo diretor Léo (Emílio Dantas), o grupo  leva adiante os ensaios de uma peça que tece comparações entre Jesus Cristo e o cangaceiro Lampião. Enquanto a repressão política rola solta na capital federal e a liberdade sexual ainda é tabu, Bia (Fernanda Nobre) se mostra cada vez mais prisioneira da obsessão de sua mãe (Françoise Forton), fazendo com que todos questionem, cada vez mais, os conceitos e valores da sociedade. (RC)

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Pegando carona com a minissérie DE SONHOS E SEGREDOS, resolvi procurar outras obras de Osvaldo Montenegro. Gostei do que encontrei. A relação entre o teatro e o cinema é o ponto de partida do autor, que abusa da arte em sua totalidade para contar uma estória (ou história?). Não se trata de um teatro filmado, há linguagem cinematográfica costurando as cenas teatrais. Depois de assistir, fiquei com a impressão de que a mensagem mais forte do filme se resume no pensamento “Um sonho sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade”. Mas não é seu único recado. Temos um grupo que troca afetos, que se une em prol de um projeto, há presença física, contatos reais, eles compartilham experiências. A força do grupo está na intimidade revelada na tela. Foi resultado de muito ensaio e cumplicidade, parceria, durante um tempo de convivência. Por ser um cenário único, a interpretação é o ponto chave, capaz de tocar o espectador. Entretanto, não podemos deixar de lado o texto, que dá voz a uma geração, através de frases e citações impactantes.

De Sonhos e Segredos (Minissérie)

ASSUNTO

Psicoterapia de grupo, arte e psicologia, teatro e psicoterapia, relações sociais, afetivas e familiares.

SINOPSE

Minissérie em 13 capítulos. O projeto de Osvaldo Montenegro criou enredos de vida para 6 personagens, buscou atores que interpretassem a cada um deles em sessões de terapia para uma psicóloga real, Joana Amaral. “São três dimensões: a dos personagens vivendo o que escrevi para eles, a da terapeuta reagindo àquilo no padrão profissional, e a dos atores tentando interpretar aquilo que é pedido” — conta Montenegro em entrevista ao Jornal O Globo. Os personagens criados são: Mariana, que nasceu Mariano; Paulo, (homem que se culpa pelo suicídio da esposa; Manuela, bailarina que sofre com dores na coxa durante suas apresentações; Cláudio, artista plástico que se sente inferior por necessitar de terapia; Lucia, que sempre sofreu com a educação rígida recebida do pai e tem grande trauma ao vê-lo beijando outro homem; e Julia, uma socióloga frustrada por descobrir que seu namorado peruano místico é uma farsa. Os pacientes não conhecem a vida nem os dramas uns dos outros. A cada novo episódio, o diretor explica ao elenco o que acontecerá durante a sessão, e os atores precisam colocar em prática a arte do improviso.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Osvaldo Montenegro fez uma homenagem aos profissionais envolvidos, ao realizar um “casamento” entre o teatro e a psicologia. Não há como não se encantar com o resultado da experiência. A interpretação de alguns atores torna o drama do personagem quase real, e porque não dizer, verdadeiro. O diretor salientou: atores tentando interpretar aquilo que é pedido. A arte da interpretação tem contorno flexível do diretor, não é limitada. Não é diferente do lugar do Terapeuta, que oferece contorno, ou suporte, para o desabrochar do cliente. O ofício da dramatização envolve um pouco da experiência pessoal com a história do personagem, um exercício de empatia muito parecido com aquele do terapeuta com o cliente. Um aspecto encantador da proposta é a mistura que faz da arte da interpretação com a perspectiva terapêutica. Muitas vezes, a improvisação de uma cena é utilizada como ferramenta terapêutica, uma possibilidade para o cliente ampliar sua visão de mundo. Os atores aceitam a proposta, mas cada qual vive a experiência com sua singularidade. As questões apresentadas pelos pacientes são particulares e universais, tocam o espectador em seus desdobramentos. Impossível não se emocionar com cada revelação do drama pessoal, que poderá encontrar eco no espectador. A equipe do projeto, envolvendo atores, profissionais distintos, incluindo a psicóloga, e, também o público podem ser tocados pelo projeto do autor, que rompe barreiras e apresenta um resultado tocante, encantador, reflexivo e único.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Manchester à beira-mar


ASSUNTO

Perda, luto, relações familiares, sociais e afetivas.

SINOPSE

Lee Chandler é uma espécie de faz-tudo do pequeno complexo de apartamento onde vive, no subúrbio de Boston. Ele passa seus dias tirando neve das portas, consertando vazamentos e fazendo o possível para ignorar a conversa de seus vizinhos. Em suas noites vazias, Lee bebe cerveja no bar local e arruma confusão com qualquer um que lhe lançar um olhar. Quando seu irmão mais velho morre, ele recebe a desagradável surpresa de sua nomeação como tutor de seu sobrinho. De volta a sua cidade natal, ele terá que lidar com memórias queridas e dolorosas.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


O filme é um retrato da realidade, razão pela qual, talvez, não tenha agradado aos que se acostumaram com a “receita pronta” de felicidade, comumente exibida nas telonas. É desconcertante assistir ao comportamento insensato no qual Lee,  entre silêncios, repletos de expressões angustiantes e agressões gratuitas, transita pela vida. O drama surpreende por sua narrativa realista e de fácil identificação com as possíveis perdas em nosso cotidiano. O assunto é conhecido, mas pouco explorado em uma vertente tão sincera, aflitiva, afetuosa e até engraçada. Todos nós temos alguma dificuldade em lidar com diferentes momentos de perda e luto, principalmente quando se trata de alguém afetivamente conectado com nossa existência. Em algumas situações, a perda pode ser devastadora. Comovente, sem ser apelativo, às vezes cômico, sem virar comédia, o filme é uma injeção de vida, apesar de falar de morte. É isso mesmo, você corre o sério risco de sair da sala de cinema mais revigorado. A simplicidade em que trata de assuntos tão complexos, traz um diferencial para o longa, que não deixa de provocar algumas reflexões.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Estrelas além do tempo

ASSUNTO

Relações sociais, familiares e afetivas, racismo, preconceito.

SINOPSE

1961. Em plena Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética disputam a supremacia na corrida espacial ao mesmo tempo em que a sociedade norte-americana lida com uma profunda cisão racial, entre brancos e negros. Tal situação é refletida também na NASA, onde um grupo de funcionárias negras é obrigada a trabalhar a parte. É lá que estão Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), grandes amigas que, além de provar sua competência dia após dia, precisam lidar com o preconceito arraigado para que consigam ascender na hierarquia da NASA.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Ser mulher nos anos 60 não era fácil, muito menos quando se for negra. O foco do longa está na trajetória de 3 mulheres negras, que conseguiram conquistar um espaço profissional dentro da NASA. Obviamente, precisaram lutar para isso. A segregação era explícita, até os banheiros e locais de alimentação eram separados, independente do cargo que ocupassem. Elas tiveram que enfrentar preconceitos sociais, raciais e de gênero. O filme não as coloca no lugar de vítimas, pelo contrário, temos a apresentação de verdadeiras heroínas, que precisaram suportar diversas pressões para mostrar sua competência. O que nos faz refletir sobre quantos potenciais gênios foram e ainda são perdidos por puro preconceito, das mais diferentes formas. Ainda vemos pessoas competentes serem discriminadas, pouco ou nada aproveitadas, e, quem perde é a humanidade. Acompanhar a luta dessas mulheres durante uma época em que o preconceito racial era explícito nos remete ao momento atual, como se tudo tivesse mudado o bastante. Não, não é o suficiente. Qualquer diferença da massa é alvo de preconceito, estigmas, rótulos de todas as espécies. Ainda é possível, por exemplo, encontrarmos dependência de empregadas em imóveis das grandes metrópoles. O diagnóstico físico nos mostra o quanto ainda estamos longe de permitir direitos iguais a todos os seres humanos. A luta está longe de acabar, seja para negros, para mulheres, para pobres, doentes mentais, homossexuais, etc.

terça-feira, 28 de março de 2017

Moonlight: sob a luz do luar

ASSUNTO

O Auto-suporte, abuso, dependência química, drogas, preconceito, homossexualidade, relações afetivas, sociais e familiares, violência.

SINOPSE

Três momentos da vida de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas, este é um poético estudo de personagem. O protagonista trilha uma jornada de autoconhecimento enquanto tenta escapar do caminho fácil da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Encontrando amor em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro maravilhoso.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


O filme poderia ter como título CHIRON EM BUSCA DE SI MESMO, pois retrata a trajetória de Chiron na busca da própria identidade, diante de um contexto adverso, agressivo e desestruturado. A jornada é universal e também particular, tendo em vista suas peculiaridades. Ele é negro, pobre e ainda vive em uma família monogâmica e disfuncional. Sim, a mãe não tem possibilidade de lhe oferecer suporte, sendo dependente química, suas alterações abusivas contribuem para a infância solitária do menino. Diante de um contexto tão insensível e adverso, Little (apelido de infância) sobrevive como pode. Vítima de bullying, preconceito racial e homofóbico, seus conflitos existenciais encontrarão algum suporte no afeto de Juan, o traficante, e sua namorada, pessoas que abrem espaço para sua autenticidade. A namorada contribui para que o menino encontre uma brecha de suporte afetivo em meio ao conturbado universo em que vive, enquanto Juan ocupa o vazio da figura paterna. Seu desenvolvimento encontra novos obstáculos, seja na transição para a adolescência, ou para a vida adulta.

Beleza Oculta


ASSUNTO

Luto, relações sociais, familiares e afetivas.

SINOPSE

Após uma tragédia pessoal, Howard (Will Smith) entra em depressão e passa a escrever cartas para a Morte, o Tempo e o Amor - algo que preocupa seus amigos. Mas o que parece impossível, se torna realidade quando essas três partes do universo decidem responder. Morte (Helen Mirren), Tempo (Jacob Latimore) e Amor (Keira Knightley) vão tentar ensinar o valor da vida para o protagonista.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


Considerado pela crítica como apelativo e superficial, o filme aborda temas existenciais de forma rasa. No entanto, é possível encontrar uma perspectiva interessante, quando percebemos não só o luto como tema, mas a morte como elemento fundamental que liga os personagens. A perda de um filho pode ser devastadora para qualquer ser humano, sem dúvida, a premissa da trama nos coloca em contato com a dor de forma clara, sendo difícil não ser tocado pelo drama de Howard. Por outro lado, o encontro com as personificações da morte, do tempo e do amor se prestam metaforicamente ao processo de luto, que pode envolver reflexões a respeito dos temas, mesmo que seja para discordar das abordagens apresentadas. Não há dúvida que a maior riqueza do filme está em nos remeter para nossas experiências particulares de perda. Aí, sim, cada espectador pode tirar proveito da experiência, pois há uma oportunidade implícita de projeção e atualização das próprias feridas. No mais, assistimos a prioridade dos interesses financeiros em detrimento do valor real da amizade, da dor do outro, da solidariedade. De fato, a escolha dos amigos e sócios beira a canalhice, ignora o plausível e a perspectiva afetiva do drama. Sim, a premissa inicial, repleta de potencial a ser desenvolvido, é esvaziada em seu desenvolvimento, tornando a trama confusa e fraca em argumentos.  

FRAGMENTADO


ASSUNTO

Saúde mental, transtorno dissociativo de identidade, abuso, relação terapêutica, relações sociais.

SINOPSE

Kevin (James McAvoy) possui 23 personalidades distintas e consegue alterná-las quimicamente em seu organismo apenas com a força do pensamento. Um dia, ele sequestra três adolescentes que encontra em um estacionamento. Vivendo em cativeiro, elas passam a conhecer as diferentes facetas de Kevin e precisam encontrar algum meio de escapar.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Transtorno dissociativo de identidade (anteriormente conhecido como distúrbio de personalidade múltipla ou transtorno de múltiplas personalidades) é uma condição psicológica complexa que é provavelmente causada por muitos fatores, incluindo trauma grave durante a primeira infância (abuso físico, sexual ou emocional geralmente extremo, repetitivo). Diferente de SYBIL, um filme de 1976 que relata um caso verídico de 17 personalidades, FRAGMENTADO mistura realidade e ficção, trazendo um paciente mais complexo. Kevin é acompanhado por terapeuta, que identificou 23 personalidades, até então. Na trama, ele entra numa nova crise, dando pistas de uma 24ª personalidade, ainda desconhecida. Sugerindo estar no comando, aos poucos ela irá controlar todas as outras personalidades, provocando o sequestro das três adolescentes e outros acontecimentos inesperados.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Lion, uma jornada para casa


ASSUNTO

Adoção, superação, resiliência, preconceito, relações familiares, afetivas e sociais.

SINOPSE

Quando tinha apenas cinco anos, o indiano Saroo (Dev Patel) se perdeu do irmão numa estação de trem de Calcutá e enfrentou grandes desafios para sobreviver sozinho até de ser adotado por uma família australiana. Incapaz de superar o que aconteceu, aos 25 anos ele decide buscar uma forma de reencontrar sua família biológica.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Adaptação do livro de mesmo título, o filme conta a história real de Saroo, um dos tantos outros meninos que se perdem todos os dias na Índia. Apesar de ter sido adotado por uma família que o educou com amor, o passado dele o atormenta, impedindo-o de viver plenamente as oportunidades do momento presente. A trajetória de Saroo é a materialização de uma busca comum a todo ser humano. Afinal de contas, nossas neuroses estão diretamente ligadas ao passado mal elaborado. Ao acompanhar sua busca, fica impossível não entrar em contato com algo da própria infância, portanto, é improvável não se emocionar. Podemos chamar de ‘busca de nossas origens’ ou de ‘passar nosso passado a limpo’, mas em algum momento, nos defrontamos com circunstâncias que nos remetem a uma situação inacabada da infância. Revisitar nossa história não significa mudar o presente, ao contrário, nos permite viver o presente em sua plenitude, sem amarras. Assim, nosso protagonista segue buscando suas origens.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Meu nome é Ray (About Ray)


ASSUNTO

Relações afetivas, sociais e familiares, transexualidade, homossexualidade, crise existencial e segredos.

SINOPSE

Três gerações de mulheres de uma família que vive sob um mesmo teto em Nova York precisam lidar com uma grande transformação de uma delas que vai afetar a todas. Ray (Elle Fanning) é uma adolescente que decidiu mudar de sexo. Sua mãe solteira, Maggie (Naomi Watts) precisa rastrear o pai biológico de Ray (Tate Donovan) para obter seu consentimento legal para a mudança. Dolly (Susan Sarandon), avó lésbica de Ray, está com dificuldade em aceitar que agora tem um neto. Cada um deles precisa confrontar sua própria identidade, aprender a aceitar a mudança e sua força como família para finalmente encontrar compreensão e harmonia.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Embora, apresente e discuta a transexualidade, o foco maior é na crise existencial da mãe de Ray. Sim, Mag está em crise. Não há porque desmerecer tal enfoque, afinal, Ray se reconhece como menino em corpo de menina, não há crise de identidade para ele. E, no final das contas, a família sempre terá dificuldade para lidar com a situação. Certamente, para Mag é mais do que isso, ela tem seu segredo em relação à paternidade de Ray e uma dificuldade tremenda em lidar com as próprias responsabilidades de mulher, adulta e mãe, sem falar na dificuldade imposta pelas necessidades de Ray. Aliás, o ponto de partida da trama está exatamente nessas necessidades. Aos 16 anos, Ray precisa da autorização do pai para realizar procedimentos médicos que favoreçam sua existência. As relações familiares são colocadas em foco a partir de então. Três gerações se encontram morando no mesmo espaço, a mãe homossexual e sua companheira, Mag e Ray. As críticas não pouparam alfinetadas, por uma simples razão, o tom pastelão da comédia tira a chance dos temas abordados serem apresentados com maior seriedade. Ainda assim, temos uma perspectiva interessante quando olhamos a interpretação de Elle Fanning, que em diferentes momentos dá espaço para os conflitos possíveis da sua condição, seja quando esconde seu peito ou quando trabalha incansavelmente para desenvolver sua versão feminina. Há clara indicação de sua necessidade primordial de encontrar uma vida mais autêntica. Sua avó homossexual não compreende as angústias da neta. Em seu universo, o desejo pelo mesmo sexo pode ser resolvido apenas assumindo a homossexualidade, sem que seja necessário trocar de sexo. Ela não percebe que para a neta (o), o maior problema não é a orientação do seu desejo, mas viver em um corpo que não reconhece como seu. Desde os 4 anos, ela percebe que aquele corpo não lhe pertence, que não é livre para ser ele mesmo, enquanto habita um corpo que lhe aprisiona.

Jane procura um namorado


ASSUNTO

Síndrome do espectro autista, relações afetivas, sociais e familiares.

SINOPSE

Jane é uma jovem mulher cheia de sonhos, mas alguns deles limitados pela complexa Síndrome de Asperger, uma condição rara que afeta a capacidade do indivíduo de se socializar e de se comunicar de maneira afetiva. Ela encontra apoio sobretudo em sua irmã, Bianca, que decidiu ajudá-la com uma missão ousada: achar o par ideial para começar a namorar.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Ok, é um filme clichê, uma comédia romântica, blá blá blá. Entretanto, falamos de uma protagonista feminina com síndrome de Asperger. Só por isso já vale assistir. Jane tem paixão pelos filmes antigos, exercita seu desejo de vivenciar romances, usa os filmes para treinar, afinal de contas, os portadores da síndrome têm dificuldade de reconhecer expressões e expressar emoções. O treinamento é necessário, quando o plano é entrar para o universo dos namoros. O filme não aprofunda a questão diagnóstica, mas pincela algumas dificuldades comuns aos portadores da síndrome. Ela quer ser reconhecida em sua fase adulta, como pessoa capaz, quer namorar. O filme não revela aptidões específicas de Jane, como costuma ocorrer nesses casos. Sabemos apenas de seu talento como estilista, sem termos noção de algum direcionamento específico de sua inteligência. Asperger é uma condição neurológica do espectro autista caracterizada por dificuldades significativas na interação social e comunicação não-verbal, além de padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos. Difere de outros transtornos do espectro autista pelo desenvolvimento típico da linguagem e cognição. Embora não seja fundamental para o diagnóstico, ser fisicamente desajeitado e ter uma linguagem atípica ou excêntrica  são características frequentemente citadas pelas pessoas com a síndrome. Em geral, os Aspergers têm inteligência notável, o que não podemos constatar em Jane. Embora, algumas passagens mostrem seu interesse por leitura de temas, como astrologia, por exemplo.

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Sete minutos depois da meia-noite


ASSUNTO

Câncer, processo de luto, imaginação, relações familiares, afetivas e sociais. Conceitos gestálticos: polaridades e ajustamento criativo.

SINOPSE

 Conor é um garoto de 13 anos de idade, com muitos problemas na vida. Seu pai é muito ausente, a mãe sofre um câncer em fase terminal, a avó lhe parece megera, e ele é maltratado na escola pelos colegas. No entanto, todas as noites Conor tem o mesmo sonho, com uma gigantesca árvore que decide contar histórias para ele, em troca de escutar as histórias do garoto. Embora as conversas com a árvore tenham consequências negativas na vida real, elas ajudam Conor a escapar das dificuldades através do mundo da fantasia. Ele refugia-se num mundo imaginário digno de conto de fadas, onde vive sentimentos de coragem, de medo, de compaixão, de fé e de perda.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Lidar com o processo de luto de um ente querido é sempre difícil. Quando falamos de uma criança em fase de transformação tudo fica mais complicado ainda. Conor é "velho demais para ser criança e muito novo para ser um homem", ainda assim, precisa lidar da melhor forma possível com a situação. Baseado no livro “O chamado do monstro”, a trama acompanha o processo e as alternativas criativas para lidar com seus conflitos internos e externos. Na costura das relações consigo e com o mundo, ele encontra na solidez de uma árvore, a monstruosidade necessária para enfrentar a circunstância, que já é bem assustadora. Tal qual um processo terapêutico, acompanhamos a procura de sentido para tudo aquilo, através da busca de integração das polaridades em seu contexto. O filme apresenta o processo de luto, sem desconsiderar as fases necessárias, quais sejamNegação, raiva, barganha, depressão e aceitação.