domingo, 9 de junho de 2019

Capitã Marvel


ASSUNTO

Jornada de autoconhecimento, relações sociais e afetivas, polaridades, relação parte e todo, resiliência.

SINOPSE

Carol Danvers (Brie Larson) é uma ex-agente da Força Aérea norte-americana, que, sem se lembrar de sua vida na Terra, é recrutada pelos Kree para fazer parte de seu exército de elite. Inimiga declarada dos Skrull, ela acaba voltando ao seu planeta de origem para impedir uma invasão dos metaformos, e assim vai acabar descobrindo a verdade sobre si, com a ajuda do agente Nick Fury (Samuel L. Jackson) e da gata Goose.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Não se engane, Capitã Marvel não se limita a um filme sobre a heroína perfeita. Ao contrário, vamos conhecer a imperfeição humana por trás dela. Somos convidados a acompanhar sua jornada de autodescoberta. É interessante notar que seu momento perfeito traz em si algumas lacunas, há uma percepção de situações inacabadas em suas lembranças em flashes. Seu momento presente é invadido por imagens do passado que parecem não ter sentido. Diante da pressão de seu entorno e a necessidade pessoal de superar conflitos em busca da tão sonhada paz, ela inicia um processo de questionamento sobre si mesma. Do ponto de vista dos filmes da Marvel, a trama ajuda a ligar pontos relevantes da história dos Vingadores, destacando sua importância no processo. Algo falta no quebra-cabeça daquela vida. Há falhas entre as informações e a falta de clareza em suas lembranças. Na busca de integração de suas partes alienadas, Verls encontra Carol Danvers, sua origem humana, uma mulher normal, que além de oprimida e desafiada constantemente, se revela como exemplo claro de resiliência. Explico: Resiliência é a capacidade de se adaptar em relação a situações adversas que se apresentam na vida, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas. Temos claras referências ao processo de opressão e empoderamento feminino, como pode ser observado. Entretanto, penso que a proposta da trama vai além da luta constante do gênero feminino, em busca de reconhecimento do seu espaço.

domingo, 10 de março de 2019

Marguerite



ASSUNTO

Sexualidade, terceira idade, relação afetiva, social e profissional.


SINOPSE

Curta-metragem indicado ao Oscar de 23019. Uma mulher idosa e sua enfermeira desenvolvem uma amizade que a inspira a descobrir desejos não reconhecidos e, assim, ajudá-la a fazer as pazes com seu passado.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

O curta-metragem encanta, ao apresentar a relação entre profissional e paciente, de uma forma delicada e poética. Diferentes profissionais convivem com pacientes terminais, em um processo delicado de fechamento de um ciclo. Não é um trabalho fácil, considerando ao vínculo construído na relação, que sabemos, está se aproximando do fim. Marguerite é uma senhora que escolhe não mais se submeter aos tratamentos que exigem internação, ela quer seguir de seu modo, em sua casa, enquanto seu corpo aguentar. Assim sendo, sua acompanhante faz o possível para mantê-la confortável.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

A favorita


ASSUNTO

Jogos de poder da realeza, relações sociais e afetivas.

SINOPSE.

Na Inglaterra do século XVIII, Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz) exerce sua influência na corte como confidente, conselheira e amante secreta da Rainha Ana (Olivia Colman). Seu posto privilegiado, no entanto, é ameaçado pela chegada de Abigail (Emma Stone), nova criada que logo se torna a queridinha da majestade e agarra com unhas e dentes à oportunidade única.


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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Fofocas e intrigas da corte habitam a trama, que baseada em fatos reais, passeia pelo mundo dos detentores do poder, em uma época em que a realeza decidia o rumo da história, mesmo sem a menor condição de fazê-lo. Um jogo cruel e manipulador de interesses políticos e pessoais são explorados no filme, evidenciando a força da influência feminina. Falamos da disputa entre duas mulheres que servem a rainha, através da amizade e de favores sexuais, ambas manipulam suas decisões, seja por interesse pessoal ou político. Em forma de sátira, o Longa faz uma crítica aos jogos sórdidos do poder, explorando as possibilidades e impossibilidades dessas relações. A rainha, louca e com tendências homossexuais, é,  por sua vez,  retratada como mimada. É possível perceber que ela é falha, humanamente imperfeita, como todos podem ser. Apesar de ocupar um cargo de liderança, tudo que ela quer é o lado bom da vida. Usufruir de todas as possibilidades prazerosas, sem que seja necessário tomar decisões e ser julgada por isso, que é desejável. Abrir mão da responsabilidade por suas escolhas é um desejo comum nos mais diversos quadros patológicos.  Por isso, ela se tornava alvo para a disputa daquelas mulheres, a estrategista e a alpinista social, que rápido aprende a usar as mesmas armas.

Green Book: O Guia

ASSUNTO

Racismo, preconceito, homofobia, relações sociais, familiares e afetivas.

SINOPSE

1962. Tony Lip (Viggo Mortensen), um dos maiores fanfarrões de Nova York, precisa de trabalho após sua discoteca, o Copacabana, fechar as portas. Ele conhece um um pianista e quer que Lip faça uma turnê com ele. Enquanto os dois se chocam no início, um vínculo finalmente cresce à medida que eles viajam.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

O racismo aqui é apresentado com uma dinâmica invertida, onde um negro contrata um branco e racista para ser seu motorista e assistente. Apesar de branco, Lip é também vítima de preconceito, tendo em vista sua classe social e ser ítalo-americano, ou seja, pertencente a uma família de imigrantes italianos. Além da troca de papéis, a comédia dramática apresenta personalidades antagônicas. Don Shirley, além de ser um conceituado pianista, tem uma formação cultural refinada, enquanto Tony Lip é bronco, grosseiro e de pouco estudo. É exatamente sua característica grotesca, que o qualifica para a vaga de motorista, assistente e segurança. O músico tem uma turnê marcada no sul dos Estados Unidos, o que nos anos 60 representava um risco para ele, tendo em vista o racismo que marca a época e o lugar. Logo no início, percebemos o comportamento racista do motorista, o que é prenúncio de um difícil processo. Ao longo da trama, o público pode ser surpreendido. A forma delicada que o contato dessas diferenças pode produzir grandes transformações, contribuindo muito para o crescimento de ambos. Chamamos de contato, em Gestalt-terapia, o encontro genuíno entre diferentes, que se afetam mutuamente, gerando desenvolvimento do ser. Nesse aspecto, o filme nos brinda com passagens espetaculares, promovendo uma clara demonstração de humanidade. Sim, porque apesar das pré-definições que temos sobre o que nos parece estranho, tais preconceitos só afastam as possibilidades de trocas necessárias ao ser humano.

Roma

ASSUNTO

Racismo, classismo, relações afetivas, familiares e sociais.

SINOPSE

Cidade do México, 1970. A rotina de uma família de classe média é controlada de maneira silenciosa por uma mulher (Yalitza Aparicio), que trabalha como babá e empregada doméstica. Durante um ano, diversos acontecimentos inesperados começam a afetar a vida de todos os moradores da casa, dando origem a uma série de mudanças, coletivas e pessoais.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Aclamado pela crítica, o filme é um retrato da sociedade mexicana em uma época não muito longínqua, está repleto de metáforas sociais e de fácil identificação com outras culturas. Roma é o nome de um bairro mexicano de classe alta e não dá cidade italiana. O luxuoso bairro contrasta com outros locais frequentados pelos menos privilegiados. Assim como em outros países da América Latina, a empregada doméstica e babá é a personagem central do meio familiar. Ao mesmo tempo em que é invisível aos integrantes da família, ela é a peça central que dá suporte e movimento ao enredo. O diretor escolheu retratar, com carinho, momentos de sua vida. Não perdeu, nem mesmo a oportunidade de exibir os constantes aviões cruzando o céu. Uma perspectiva que vai além de sua memória, pois serve também como uma forma de transmitir a ideia de transitoriedade, o que nos remete às situações pelas quais os personagens passam. Além da metalinguagem, que rende homenagens a outros filmes, o longa aproveita a oportunidade para retratar acontecimentos trágicos e marcantes dos anos 70. Cléo transita entre os seus dramas pessoais e os da família, que se torna parte de sua trajetória de vida.  Sendo assim, num momento ela está aconchegada com os patrões vendo filme, em outro, cumprindo ordens específicas e urgentes. Carinho e frieza, presença e ausência, consideração e desprezo, são algumas polaridades marcadas na relação empregada/patrão. Se, por um lado inclui a babá como parte da família, por outro, a mantém no “seu lugar”, ou seja, na classe social a qual pertence, e, na qual deve permanecer.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Margarita de canudinho


ASSUNTO

Paralisia cerebral, deficiência visual, descoberta da sexualidade, bissexualidade, relações afetivas, familiares e sociais.

SINOPSE

Laila (Kalki Koechelin) é uma adolescente indiana que tem paralisia cerebral. Ela estuda na Universidade de Delhi, escreve poesias e cria sons eletrônicos para uma banda indie da universidade. Laila se apaixona pelo vocalista e fica de coração partido quando é rejeitada. Ao lado de sua mãe (Revathy), ela deixa seu país para estudar na Universidade de Nova York, onde aproveita a oportunidade para exercitar sua independência. Lá, ela conhece uma jovem ativista (Sayani Gupta) em Manhattan e embarca em uma jornada de descobertas.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Que filme delicado, verdadeiro, esclarecedor, simples e inclusivo. A trama não pretende focar nas dificuldades da protagonista ou de outros personagens. Apesar dos obstáculos impostos por sua paralisia cerebral, ou pela deficiência visual da outra personagem, o foco está nas possibilidades de vida, apesar das adversidades. Como qualquer adolescente, Laila enfrenta questões muito comuns aos seus pares. Ela se apaixona, tem desejos, dúvidas, paixões e decepções. As experiências dela são verdadeiras, simplesmente acontecem e ela faz novas descobertas. A sutileza das cenas é incrível, transformando suas descobertas sexuais, desde a masturbação ao ato, em acontecimentos naturais. Não há classificação, exploração ou crítica, eles simplesmente fazem parte da vida. Simples assim. O espectador acompanha gestos sutis, ouve sons, descortina seu desabrochar, sem que sua privacidade seja desrespeitada. Um olhar delicados sobre as questões dela, sejam afetivas ou sexuais, é uma constante no longa, que encanta em sua simplicidade. Outros mundos se revelam para Laila, a cada novo encontro, novos vínculos, novas experiências. Preconceitos e tabus são desnudados na telona, com uma leveza sedutora, delicada e única. Seu encontro com Khanum, uma deficiente visual, ampliam seu mundo.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Felicidade por um fio



ASSUNTO

Preconceito, relações afetivas, familiares e sociais.

SINOPSE

Violet Jones (Sanaa Lathan) é uma publicitária bem-sucedida que considera sua vida perfeita, tendo um ótimo namorado e uma rotina organizada meticulosamente para conseguir estar sempre impecável. Após uma enorme desilusão, ela resolve repaginar o visual e o caminho de aceitação de seu cabelo está intrinsecamente ligado à sua reformulação como mulher, superando traumas que vêm desde a infância e pela primeira vez se colocando acima da opinião alheia.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

“Felicidade por um fio” é uma comédia leve sobre a construção do amor próprio. O preconceito internalizado na infância é parte do que faz Violet buscar a perfeição em sua forma de funcionar no mundo. Alguma receita pronta de “vida perfeita” tornou-se o norteador de seu viver, oprimindo sua autenticidade e a aceitação de si mesma. Ainda que seja uma comédia despretensiosa, a trama apresenta um tema interessante, que pode encontrar identificação em diferentes espectadores. O preconceito, de qualquer espécie, pode ser internalizado ainda na infância, tornando a aceitação de si mesmo um processo longo e doloroso. Aliás, doloroso é viver em um formato diferente da própria naturalidade de ser, entretanto, isso é mais comum do que podemos imaginar. A preocupação em se adequar ao que é apreendido como desejável, como forma de ser aceito e bem visto pela sociedade, pode distanciar a pessoa de quem é de fato. A vida neurótica, aparentemente perfeita, pode ser bastante sofrida. Escrava da aparência, Violet representa outros tantos que não estão satisfeitos consigo, devido a um modelo do que é considerado “normal”, socialmente aceito, ou, imposto pela “ditadura da beleza”. Em um momento de decepção amorosa, de sofrimento e dor,  a protagonista encontra o caminho de volta para si, resgatando sua espontaneidade e o orgulho por ser quem é:  mulher, negra, com opinião própria. Desfazer-se de seu cabelo é como despir-se, sentir-se nua em público.  Trata-se de um processo semelhante ao terapêutico, que nos coloca frente a frente com o que somos, nos revelando aos poucos, descortinando as aparências para revelação do ser.  A desconstrução de um modelo automático, pré-fabricado, dá lugar a novas descobertas sobre desejos e objetivos, inaugurando um novo caminho, resgatando os sentidos em sua totalidade do ser. Fritz Perls, considerado o pai da Abordagem psicológica conhecida como Gestalt-terapia, nos alertava sobre o perigo dessa busca pela perfeição, ao afirmar;

“Amigo, não seja um perfeccionista. Perfeccionismo é uma maldição e uma prisão. Quanto mais você treme, mais erra o alvo. Você é perfeito, se se permitir, ser. Amigo, não tenha medo de erros. Erros não são pecados. Erros são formas de fazer algo de maneira diferente, talvez criativamente nova. Amigo, não fique aborrecido por seus erros. Alegre-se por eles. Você teve coragem de dar algo de si.” 

domingo, 25 de março de 2018

CORA CORALINA - TODAS AS VIDAS



ASSUNTO

Literatura, poesia, relações familiares, afetivas e sociais, biografia, sensibilidade, multiplicidade da vida. Relação parte-todo da Abordagem Gestáltica.

SINOPSE

O longa apresenta aspectos pouco conhecidos da vida de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, a Cora Coralina, uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos. Em emocionantes 75 minutos, o filme revela a trajetória de Cora Coralina dos anos de infância até se casar e sair de Goiás; do largo tempo de 45 anos vividos em diferentes cidades no estado de São Paulo; e de seu retorno à Cidade de Goiás, quando se revelou ao Brasil com a força de sua poesia.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Ah, Cora Coralina, a multiplicidade do ser, pessoa, mulher, poeta, doceira, e, tantas outras. Aninha, sua versão infantil, é resgatada na poesia, integrando a pessoa. Um filme bibliográfico e poético, tendo em vista sua costura entre a subjetividade e o material documentado. Como não podia deixar de ser, a arte é o fio condutor, que revela a força da mulher que foi Cora Coralina. Solidária, corajosa, crítica, guerreira, frágil e forte, sensível, sensível e sensível. Costumamos dizer, em psicologia, que percebemos no mundo aquilo que nos é conhecido. Somos sensíveis frente a situações que já experimentamos. O que torna difícil compreendermos o que está fora de nosso repertório pessoal. Obviamente, algumas situações inusitadas nos despertam para o novo, o que colabora para nosso crescimento pessoal. O filme retrata uma particularidade de Cora invejável, sua sensibilidade diante do mundo. Desde cedo, ela foi e se manteve muito aberta para o novo, se integrando a cada instante ao meio circundante. Sua percepção abrange a natureza das coisas e pessoas, todo tempo revelando-se parte e todo, um movimento  extremamente sensível e delicado. Para a Gestalt-terapia, a relação parte e todo, movimento explícito na obra, é o movimento saudável do ser humano, em direção a totalidade do ser. Dentre outros conceitos, caros à abordagem, é possível percebê-lo em detaque na trama, em diferentes momentos poéticos.  Se num momento, ela se identifica com a natureza como parte de si mesma, no outro, acolhe a diferença do outro como possibilidade, sem conceito pré concebido. O filme é um presente para os amantes da arte, da literatura e da vida.

domingo, 18 de março de 2018



ASSUNTO

Relações familiares, sociais e afetivas, suicídio, psicodiagnóstico, saúde mental e arte.

SINOPSE

1891. Um ano após o suicídio de Vincent Van Gogh, Armand Roulin (Douglas Booth) encontra uma carta por ele enviada ao irmão Theo, que jamais chegou ao seu destino. Após conversar com o pai, carteiro que era amigo pessoal de Van Gogh, Armand é incentivado a entregar ele mesmo a correspondência. Desta forma, ele parte para a cidade francesa de Arles na esperança de encontrar algum contato com a família do pintor falecido. Lá, inicia uma investigação junto às pessoas que conheceram Van Gogh, no intuito de decifrar se ele realmente se matou.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

A animação é uma obra prima, trazendo para a telona a arte de Van Gogh em movimentos, tão tocantes quanto suas obras. Como qualquer obra prima, inspira diferentes percepções no espectador. A animação quase documental, não se furta de evidenciar conflitos existenciais de sua história, traduzidos em suas obras. Tal qual Armand, personagem que investiga a vida do artista, somos conquistados aos poucos, pela riqueza de situações emocionantes e curiosas em torno do mestre. Alguns elementos históricos foram incluídos na trama, de forma tão sensível, que o filme se torna magnífico. Um dos aspectos que mais me tocou, tem a ver com repetidas angústias que chegam diariamente ao consultório de psicologia. Falamos da dificuldade daqueles que não se “encaixam” no que a família ou a sociedade espera dele. Encontrar a própria vocação, em meio às pressões familiares e sociais, pode ser dilacerante. Família e sociedade funcionam com seus padrões de exigência, muitas vezes desestimulando, reprovando, sufocando a singularidade do ser. A adolescência, momento de ENEM, de pressão versus sensações intensas, podem desencadear frustrações insuportáveis. A ausência de suporte pode agravar a situação. A crítica, a reprovação, afeta o processo de identidade da pessoa, sua auto estima pode ser prejudicada. A depressão, mal do século, pode ser considerada como a melhor alternativa, que o sujeito encontra para lidar com a situação. Longe de apontar uma relação causal para a depressão, estamos partilhando uma reflexão provocada pela trama.

Viva - A vida é uma festa!



ASSUNTO

Relações afetivas e familiares, perdas, luto, morte, memória afetiva, Constelação Familiar, autoconhecimento, totalidade, campo, contato (conceitos gestalticos).


SINOPSE

Miguel é um menino de 12 anos que quer muito ser um músico famoso, mas ele precisa lidar com sua família que desaprova seu sonho. Determinado a virar o jogo, ele acaba desencadeando uma série de eventos ligados a um mistério de 100 anos. A aventura, com inspiração no feriado mexicano do Dia dos Mortos, acaba gerando uma extraordinária reunião familiar.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Animação encantadora que ousa falar de morte, real ou simbólica, através de música, cores, poesia e afeto familiar. É impossível permanecer indiferente diante de questões que podem ser tanto singulares, quanto comuns. Ainda, que o enredo tenha como pano de fundo a cultura mexicana, ou, que explore questões particulares da família de Miguel, estamos diante de temas comuns a qualquer família. Sendo assim, há na trama o encontro, ou embate, entre a tradição familiar e os desafios da nova geração. Toda família tem suas próprias regras. Suas crenças e valores são, muitas vezes, desafiados pela nova geração. Miguel não foge a regra, deseja transgredir os limites impostos pela família, pois a música é a arte que já faz parte de quem ele é. É no “dia de muertos”, feriado celebrado pelos mexicanos de um jeito especial, que ele decide ir atrás de seu sonho. No processo de individuação, ou, na busca por sua identidade, Miguel se depara com uma parte que falta na foto da família. Essa parte faltante o leva para o mundo dos mortos.  A morte, ou, os mortos, ganham outra perspectiva, sendo suavizados através da expressão repleta de sons, cores e o clima festivo. Aqui, a chave mestre é o afeto, aquele capaz de manter na memória a lembrança do familiar que partiu. A dor não é o único caminho. Para os mexicanos, é dia de festa, com direito a oferendas diante das fotos dos entes e a família reunida, é um encontro de gerações. Na celebração, o caminho é decorado com pétalas de flores, para que os entes queridos possam visitar suas famílias (o que só é permitido no referido feriado).  Além de homenagear a cultura mexicana, a animação convida o expectador a entrar em contato com seu campo familiar, o que pode promover boas reflexões.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Me chame pelo seu nome

ASSUNTO

Adolescência, despertar da sexualidade, Homossexualidade, diferenças, relações familiares, sociais e afetivas.

SINOPSE

Verão de 1983, norte da Itália. Elio Perlman, um jovem ítalo-americano de 17 anos, passa seus dias na vila de sua família, um antigo casarão do século XVII. Seus dias são repletos de composições ao piano e flertes com sua amiga Marzia. Um dia, Oliver, um charmoso homem de 24 anos, que está fazendo doutorado, chega para ajudar o pai de Elio, um renomado professor, em sua pesquisa sobre cultura greco-romana. Sob o sol do verão italiano, Elio e Oliver descobrem a beleza do despertar de novos desejos que irão mudar as suas vidas para sempre. 

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Pode não agradar, não só pelo tema delicado, mas pelo ritmo lento, principalmente na primeira parte. No entanto, é exatamente pelo ritmo, que o longa proporciona o envolvimento do público no sensível processo de contato entre os protagonistas. “Me chame pelo seu nome” traz em seu título o anúncio do tema que será desdobrado na tela: A entrega no encontro com o outro, tão intensa e arrebatadora, que promoverá  autoconhecimento. Elio é maduro para sua idade e conhecedor de diversos assuntos, mas não deixa de ser adolescente. Como tal, seu corpo e mente sofrem transformações, ele está desabrochando. A chegada de Oliver afeta seu mundo de diferentes formas, o que o deixa confuso.  O despertar de sua sexualidade começa em momentos de tensão, que aos poucos se transformam. A experiência intensa e arrebatadora irá afetar a ambos para sempre. Não é sobre homossexualidade, é uma história de amor, do primeiro amor, simplesmente, amor.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Três anúncios para um crime

ASSUNTO

Relações familiares, sociais e afetivas; abuso de poder, violência, racismo e família disfuncional.

SINOPSE

Inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo brutal assassinato de sua filha, Mildred Hayes (Frances McDormand) decide chamar atenção para o caso não solucionado alugando três outdoors em uma estrada raramente usada. A inesperada atitude repercute em toda a cidade e suas consequências afetam várias pessoas, especialmente a própria Mildred e o Delegado Willoughby (Woody Harrelson), responsável pela investigação.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA


Não existe nada óbvio no longa, ainda que tenha como tema central algo que assim possa parecer. Entre o absurdo e a crueldade da vida, o filme transita entre os acontecimentos e personagens peculiares. Com humor negro surpreendente, recheado de personagens complexos, a trama perpassa entre o bem e o mal, sem escolher lado. Não há herói, nem vilão. A mãe, inconformada com a lentidão das investigações, age de acordo com suas convicções. A cidade é pequena, a lei tem suas particularidades e seus agentes a aplicam de acordo com as próprias convicções. Por outro lado, a culpa é um peso a ser carregado, pois ninguém está livre de cometer erros em ações promovidas pela própria noção de justiça. É bom ressaltar que o crime brutal, tema central da trama, não é a única injustiça retratada. Temos um retrato particular e universal, quando observamos as diferentes reações, ou a falta dela, diante do fato que pode afetar a vida dos personagens. A raiva está nos pequenos e grandes movimentos dos personagens, em diversos momentos da trama. As relações sociais e familiares não estão ausentes, ao contrário, são exploradas.  A pacata cidade do interior se transforma num cenário doente, onde todos têm seus anjos e demônios expostos. Não é sobre a solução de um crime, nem sobre lição de moral. Com humor ácido, o filme denuncia mais do que um crime, provoca o próprio julgamento, confronta tudo que é politicamente correto, incomoda. Um episódio abominável altera a rotina de várias pessoas, desencadeando reações inesperadas. Racismo, abuso de poder, culpa, manipulações afetivas, doenças físicas e/ou mentais, relações familiares disfuncionais são temas que podem provocar diferentes reações no espectador, pela forma que são apresentados. A crueldade, as motivações, os encontros e desencontros, as diferentes provocações e reações suscitadas, nos personagens ou no espectador, podem provocar diferentes reflexões. alvez, muito necessárias, diante das atrocidades e inversão de valores que cada vez mais fazem parte do nosso cotidiano. Confira!

domingo, 28 de janeiro de 2018

A forma da água

ASSUNTO

Xenofobia, racismo, sexismo, homofobia, preconceito, solidão, sexualidade, relações afetivas e sociais.

SINOPSE

Década de 60. Em meio aos grandes conflitos políticos e bélicos e as grandes transformações sociais ocorridas nos Estados Unidos, Elisa (Sally Hawkins), zeladora em um laboratório experimental secreto do governo, conhece e se afeiçoa a uma criatura fantástica mantida presa no local. Para elaborar um arriscado plano de fuga ela recorre a um vizinho (Richard Jenkins) e à colega de trabalho Zelda (Octavia Spencer).


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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Existem filmes que são capazes de nos deixar atônitas em seu desfecho. “A forma da água” não é apenas um deles, pois o suspiro emocionado ainda transbordava, após a conclusão do longa, reverberando por algum tempo. Talvez, tenha sido por sua linguagem poética, delicada, encantadora, que costura fantasia e realidade para falar de sentimentos tão existenciais e necessários ao ser humano. O filme fala, de forma singela, sobre o encontro de diferenças, desnuda a empatia, denuncia diferentes faces da desemboca no amor, simples assim. Da masturbação ao sexo entre seres distintos, o enredo possibilita desconstruções. Para os que se percebem deslocados no mundo, é um poema. Com delicadeza, em contraste com a estupidez humana, a trama desdobra o amor, sem pudor. A água, fonte da vida, não podia estar em melhor lugar para falar e espelhar diferentes emoções do humano, que podem ser refletidas na “criatura”, diante das diferentes conexões, conforme declarado por Guillermo Del Toro:
“A água toma a forma do que quer que a esteja contendo, e embora possa ser tão suave, é também a força mais poderosa e maleável do universo. Isso também é amor, não é?! Não importa em que fôrma colocamos o amor, ele se molda a ela, seja homem, mulher ou criatura”.
 O filme é uma fábula encantadora sobre amor, que dispensa palavras, priorizando os sentidos através das diferentes formas de amar, amor ao próximo, à ciência, à amizade, ao estranho, ao diferente, singular e puro amor. Para os que são incapazes de lidar com as diferenças, que abusam da violência, do sadismo, da moralidade falsa, fica a questão: quem é o monstro? Quem é a criatura que nos ameaça, o desconhecido ou a repressão cotidiana e sádica capaz de sufocar? Cada personagem tem seu próprio espaço, contados através de linguagem verbais e não verbais. O contexto, a guerra fria, a tensão em um mundo dividido, nos lembra outras tantas divisões promovidas em diferentes momentos históricos, em qualquer lugar. O abuso de poder, o machismo, a homofobia, o racismo, o moralismo hipócrita são os “nós” da trama. Elisa (sexismo), Zelda (racismo), Giles (preconceito) e a criatura (xenofobia) representam vítimas do sistema capazes de alinhavar laços afetivos.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Lady Bird, é hora de voar

ASSUNTO

Adolescência, ansiedade, sexualidade, puberdade, relações familiares, sociais e afetivas.

SINOPSE

Christine McPherson (Saoirse Ronan) está no último ano do ensino médio e o que mais deseja é ir fazer faculdade longe de Sacramento, Califórnia, ideia firmemente rejeitada por sua mãe (Laurie Metcalf). Lady Bird, como a garota de forte personalidade exige ser chamada, não se dá por vencida e leva o plano de ir embora adiante mesmo assim. Enquanto sua hora não chega, no entanto, ela se divide entre as obrigações estudantis no colégio católico, o primeiro namoro, típicos rituais de passagem para a vida adulta e inúmeros desentendimentos com a progenitora.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


Indicado para o Oscar, o longa acompanha Lady Bird da passagem da adolescência para a maturidade. A jornada de amadurecimento já foi retratada em outros tantos filmes, o Charme daqui está na forma como acontece. A ansiedade adolescente é evidenciada no processo, sem que seja necessário qualquer diagnóstico. Afinal, é bastante comum que a ansiedade acompanhe a adolescência, sem que precise ser considerada uma patologia. Christine quer voar, é aventureira, sonhadora, dramática, impetuosa e muito desafiadora. A família não está em uma situação financeira privilegiada, a mãe aponta isso a todo instante, diferente do pai, que dá “cobertura” para os sonhos da moça. Mãe e filha vivem às turras, diante dos desafios da vida. Não é muito diferente do que acontece com frequencia: o adolescente elege um dos pais para "parceiro" e o outro como inimigo. Se o inimigo é aquele que tem os pés na realidade, frustrando os devaneios adolescentes, ele vira alvo de enfrentamentos, birras, discussões infindáveis.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O Natal dos Coopers

ASSUNTO

Relações familiares,  afetivas, diferença, valores e crenças.

SINOPSE

O Natal se aproxima e, como acontece em todos os anos, a família Cooper se prepara para a grande ceia na casa dos patriarcas Sam (John Goodman) e Charlotte (Diane Keaton). Só que, em meio ao suposto clima festivo, o casal está prestes a se separar. Seus filhos Hank (Ed Helms) e Eleanor (Olivia Wilde) também enfrentam problemas, já que ele está desempregado e ela mantém um caso com um médico casado. Paralelamente, Emma (Marisa Tomei) tem dificuldade em lidar com a solidão e com a inveja que sente da irmã mais velha, Charlotte, enquanto que o pai delas, Bucky (Alan Arkin) sente-se cada vez mais próximo de Ruby (Amanda Seyfried), a garçonete do restaurante que ele sempre frequenta.

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OLHAR DA PSICOLOGIA

A “magia do Natal” é destaque em muitos filmes do gênero, que insistem em mostrar uma família “perfeita” enfrentando alguma situação ou pessoa do mal, que no final são “afetadas” pelo encanto da ocasião. Só que não, “O Natal dos Coopers” mostra uma família real, com problemas comuns, nos dias que antecedem o encontro natalino, onde serão omitidas as questões pessoais de cada membro. Encontros e desencontros antecedem a noite esperada, seja consigo ou com o outro, com verdades e mentiras que podem provocar risos e incômodos na mesma medida. Nem todos acreditam que o evento possa ser mágico, harmonioso e feliz. Os próprios anfitriões escondem a real situação, pois omitem o abalo na relação do casal, que está em vias de separação. Cada um dos familiares enfrenta problemas pessoais, o que pode fazer o reencontro um momento de pressão, ameaça ou trazer lembranças de situações infelizes, algumas inacabadas. Reunir parentes no natal é momento de infinitas possibilidades, nem sempre tão felizes, como as comumente apresentadas na telona! É momento de atualização, de "fofocas", de "disputas, de encontro de diferenças. O filme apresenta um pouco de cada possível extremo, da conturbada expectativa ao final feliz, do aparentar ao ser. Falar de família é transitar nos extremos, é explorar aspectos que parecem antagônicos, e, podem se revelar complementares. Algo inesperado, incômodo, frustrante ou constrangedor na noite de natal em família, quem não viveu?

sábado, 18 de novembro de 2017

MONSIEUR & MADAME ADELMAN

ASSUNTO

Relação afetiva, familiar e social, família disfuncional, segredo, traição, feminismo, suicídio e alcoolismo.

SINOPSE

Sarah (Doria Tillier) e Victor (Nicolas Bedos) estiveram juntos por 45 anos. No funeral dele, Sarah é abordada por um jornalista que deseja contar a história de seu marido, um renomado escritor, a partir do olhar da mulher que sempre o acompanhou. A partir de então, ela passa a contar as minúcias do relacionamento que tiveram, incluindo segredos bastante íntimos.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


A trama nos convida a desconstruir os ideais de felicidade nas relações afetivas de longa data. Não, o filme está longe de se tornar “receita” de boa relação amorosa. Ao contrário, a trama está repleta de alternativas pouco recomendadas em qualquer relação. É isso que faz do filme um relato possível, verdadeiro, recheado de erros e acertos de uma relação amorosa de 45 anos. Partindo do relato da viúva, acompanhamos a história do casal desde o primeiro encontro, revelando os sabores e dissabores da relação. A perspectiva, que desnuda a intimidade do casal, revela a força da personagem feminina, que desde o início busca o que deseja sem perder o foco . Tudo é contado sem menosprezar o contexto. A cada momento, a trama alinhava a vida social, religiosa e política, apontando possíveis influências do entorno de cada época, na relação que é construída pelo casal. Temos uma mulher à frente de seu tempo, determinada, empenhada e apaixonada, que se torna o pilar da família em construção.

domingo, 29 de outubro de 2017

Os Meyerowitz: Família não se escolhe


ASSUNTO

Relações familiares, afetivas e sociais, alcoolismo, conflitos familiares, legado.

SINOPSE

Nova York. Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman) é o patriarca da família, casado com Maureen (Emma Thompson) e pai de Matthew (Ben Stiller), Danny (Adam Sandler) e Jean (Elizabeth Marvel). Escultor aposentado e extremamente vaidoso, ele fica satisfeito ao saber que está sendo organizada uma exposição para celebrar seu trabalho artístico. Só que, em meio aos preparativos, Harold adoece e faz com que todos os filhos precisem se unir para ajudá-lo a se recuperar, o que resulta em várias situações que colocam a limpo traumas do passado. Danny é um pianista que abandonou a carreira e se dedicou integralmente aos cuidados da filha Eliza (Grace Van Patten), que agora aos 18 anos se mostra completamente independente de seu pai.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA

As peculiaridades de cada membro da família disfuncional podem ser resumidas na frase em destaque da trama: “Somos apegados a ideia que temos de nós mesmos”. Afinal, como tal idéia é construída? Qual é a influência da família de origem nessa construção? Os Meyerowitz podem revelar muito sobre o assunto.  Somos apresentados a família por Danny, o filho estagnado, que abandonou a carreira e se dedicou exclusivamente a educar sua filha. Ao contrário do pai, egoísta e distante, Danny negligencia a si mesmo, priorizando o afeto na relação com a filha. Como muitos adultos do nosso século, após a separação e a ida da filha para a faculdade, ele busca refúgio na casa da família de origem. Seu corpo expressa aquilo que não consegue elaborar, a raiva contida.

Marathon (2005)

ASSUNTO

Autismo, relações familiares e sociais.

SINOPSE

O filme conta a história de um jovem com autismo, chamado Cho-won, que se encontra apenas na corrida. Quando criança, Cho Won regularmente tinha birras, e recusava-se a comunicar com os outros - encontrando consolo em zebras e apenas no lanche coreano, Chocopie. Sua mãe nunca desistiu dele e estava determinada a provar ao mundo que seu filho pode ser normal. Ao envelhecer, ele começa a descobrir a paixão pela corrida e sua mãe está lá para encorajar e apoiar ele. Apesar de ambos sofrerem com a família e de problemas financeiros, eles encontram um antigo campeão de maratona - agora um homem velho letárgico com problemas de alcoolismo, que ajuda Cho-won a se superar.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA:

Contar a história de um autista implica falar de relações familiares e sociais. Em MARATHON não é diferente, acompanharemos a construção e desconstrução dessas relações desde seu nascimento. As dificuldades enfrentadas pelos parentes, pais e irmãos, durante o processo de educação, são apresentadas. A mãe, que se dedica exaustivamente a aproximá-lo do mundo social, carrega também culpa por seus conflitos internos. Acompanhamos as dificuldades de uma família lidar com o autista, da complexidade em sua forma de perceber o mundo, diferente dos neurotípicos (como são considerados os ditos “normais”). A hipersensibilidade sensorial e as comuns crises de ansiedade são retratatadas na trama, que revela muito do universo autista. A mãe procura, incansavelmente, qualquer possibilidade de suporte ao filho, muitas vezes esquecendo-se de si e dos outros membros da família. Como acontece com muitas mães de autista, ela busca sua forma peculiar de ensinar, traduzir e proteger.  Na fase adulta do jovem, ela só deseja que o filho morra um dia antes dela, para que ainda possa ser cuidado por ela. O irmão, muitas vezes preterido, em função das necessidades do autista, revela mágoa em seu comportamento.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Atypical


ASSUNTO

Relações familiares, afetivas, terapêutica e social, Autismo, Asperger. 

SINOPSE

Sam ( Keir Gilchrist) é um jovem autista de 18 anos que está em busca de sua própria independência. Nesta jornada, repleta de desafios, mas que rende algumas risadas, ele e sua família aprendem a lidar com  é tão óbvio assim.



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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Arypical (atípico) é a nova série da Netflix, que traz algumas singularidades do Espectro Autista para o centro do debate, muito mais para familiarizar o público, do que para rotular diferenças. Sam é atípico, não funciona como a maioria, foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na forma branda, o que antes era diagnosticado como Síndrome de Asperger. Difere do autismo clássico, não só pelos sintomas mais leves, mas principalmente por sua capacidade cognitiva, muitas vezes com a inteligência acima da média.  Sua forma de perceber o mundo é apresentada, favorecendo ao espectador compreender melhor o universo autista. Sim, Sam tem uma família comum, que aos poucos conhecemos em sua rotina imperfeita. Todos os personagens são humanos, repletos de conflitos e imperfeições, o que torna a série crível e simpática. A irmã de Sam é sua parceira, sua protetora e amiga. Ela também é atleta e leva muito a sério seu treino diário. Sam freqüenta a psicoterapia, vai à mesma escola da irmã e trabalha numa loja de eletro-eletrônicos. Seu pai trabalha fora e sua mãe abriu mão da carreira para dar suporte às necessidades do filho.  Somos convidados a conhecer o universo de Sam pela ótica autista, uma forma singular de perceber o mundo. Aos poucos, conhecemos a difícil realidade, não só dos familiares, mas da sociedade em geral, no trato com o TEA. A falta de compreensão ou informação sobre a condição autista e suas particularidades pode dificultar as relações, não só da sociedade com o portador, mas também do autista consigo mesmo e com o mundo. Ele se esforça para ser aceito pela sociedade, apesar de não perceber o entorno da mesma forma. Muitas vezes, o TEA desenvolve crises de depressão ou ansiedade, muito antes de compreender a si mesmo e as diferentes formas de perceber o mundo. O diagnóstico e a informação sobre suas particularidades podem favorecer uma vida mais saudável, integrando sua identidade. A série presta um serviço social ao apresentar sintomas e dificuldades reais vivenciadas por Sam e seus familiares. Quase didática, a série costura as relações afetivas e sociais de forma leve, agradável e até engraçada. A primeira temporada deixa o gosto de “quero mais” no espectador, pois além de promover esclarecimentos sobre o TEA, traz conflitos e conquistas de outros personagens bem reais, humanos e imperfeitos como todos nós. Vale conferir.

Os meninos que enganavam os nazistas


ASSUNTO

Relações familiares, sociais, afetivas, discriminação, intolerância, guerra, aprendizagem.


SINOPSE

Durante um período de ocupação nazista na França, os jovens irmãos judeus Maurice (Batyste Fleurial) e Joseph (Dorian Le Clech) embarcam em uma aventura para escapar dos nazistas. Em meio a invasão e a perseguição, eles se monstram espertos, corajosos e inteligentes em sua escapada, tudo com o objetivo de reunir a família mais uma vez.

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Numa época na qual os valores se perdem, quando as crianças não são convidadas a enfrentar seus próprios desafios, sendo protegidas em demasia, o filme se torna necessário. Sim, necessário para reflexão de pais educadores e filhos contemporâneos, tão íntimos dos avanços tecnológicos e ao mesmo tempo, tão distantes das necessidades reais. A trama acompanha a saga de dois irmãos diante dos horrores do Holocausto e da segunda Guerra mundial.  Eles pertencem a uma família feliz, unida, amorosa e judia.  Maurice e Joseph descobrem da pior forma possível como a intolerância pode se tornar uma epidemia. Seus colegas de escola, “contaminados” pelo pensamento nazista anti-semita, passam a hostilizá-los da noite para o dia, apenas por ostentarem a identificação judaica. Eles deixam de ser reconhecidos como pessoas, passam a ostentar um rótulo, que os classifica como algo a ser eliminado. Na mesma velocidade da ocupação nazista, a trajetória de vida deles é radicalmente transformada, o mundo exige novas estratégias. A estrutura familiar fica evidenciada na emergência da situação, quando o pai impõe o limite necessário, mesmo que seja preciso separar, agredir, desconstruir ensinamentos, até mesmo sobre a própria identidade. Eles precisam aprender a mentir para sobreviver. Os meninos aprendem com a experiência, sem o suporte físico dos pais, mas apoiados na estrutura fornecida por aquela família amorosa. É um filme lindo, emocionante, delicado. A urgência, de cada dura experiência, prepara-os para o momento seguinte, tornando-os mais fortes. Não é nada fácil, o que fica evidente na fragilidade das crianças, que podem chorar, chamar pela mãe, quase desistir, entretanto, contam com a sorte em momentos de desesperança. A intolerância e violência retratadas na trama são contrastadas com a reação humanitária de Joseph, diante da reação vingativa dos franceses no fim da guerra. Ele mente, ele surpreende, ele aprendeu com a própria dor a não desejar o mesmo para o outro. Ele aprendeu que a diferença não é justificativa para a violência e que todos são iguais, independente da raça, cor ou crença. Ele nos alerta sobre a necessidade de respeitarmos as diferenças, aceitando múltiplas singularidades do ser. As crianças experimentam situações dolorosas, que os ensinam sobre si mesmos, descortinando o próprio potencial.  

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Preto e branco

ASSUNTO

Alcoolismo, dependência química, racismo, luto, disputa de guarda de menor, direito, relações familiares, afetivas e sociais.

SINOPSE

Ao mesmo tempo que se esforça para superar a recente perda da mulher, Elliot Anderson (Kevin Costner)  tenta dar o melhor de si a Eloise (Jillian Estell), a neta que vive aos seus cuidados desde a trágica morte da sua filha. Apesar das dificuldades inerentes à sua condição de viúvo e avô, a criança tornou-se a sua única razão de viver e o que o motiva a continuar. Quando We-we (Octavia Spencer), a avó da criança, o informa das intenções de obter a custódia partilhada, Elliot recusa-se terminantemente a aceitar. De um momento para o outro, a pequena Eloise é forçada a dividir-se entre as duas famílias que lutam pela sua atenção e pelo que consideram ser o melhor. Quando a rivalidade entre os dois sexagenários chega à barra do tribunal, eles vêem-se confrontados com algumas das suas crenças e preconceitos mais enraizados.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


O título original é “Back or White”, usando “or” (o – em português) no lugar do “e” do título em português. O que agrada de cara, tendo em vista que muito do trabalho terapêutico da Abordagem Gestáltica está focado na integração de polaridades. Ou seja, priorizamos a noção integrativa oferecida pelo aditivo “e”, em detrimento das dicotomias promovidas pelo “ou”. Afinal, por que não as duas coisas? A visão dicotômica de conceitos como, “preto ou branco”, “bom e mau”, “verdade ou mentira” são restritivas e estão sendo revisadas, muitas vezes sendo substituídas por noções mais integrativas. O filme desenvolve essa idéia, ainda que o processo tente argumentar uma divisão racista em nome da vitória nos tribunais. Mas, o drama é mais que isso. Fala de luto, de alcoolismo, de dependência química, de mágoas, de relações familiares, de super proteção, de construção de afetos e desafetos.

O mínimo para viver

ASSUNTO

Anorexia, distúrbios alimentares, família disfuncional, relações familiares, afetivas e sociais.

SINOPSE

Uma jovem (Lily Collins) está lidando com um problema que afeta muitos jovens no mundo: a anorexia. Sem perspectivas de se livrar da doença e ter uma vida feliz e saudável, a moça passa os dias sem esperança. Porém, quando ela encontra um médico (Keanu Reeves) não convencional que a desafia a enfrentar sua condição e abraçar a vida, tudo pode mudar.


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O OLHAR DA PSICOLOGIA


Anorexia, entre outros distúrbios alimentares, é tema central do filme. Ellen, 20 anos, tem anorexia, uma doença que afeta também aos familiares.   Antes de tudo, vamos falar sobre transtornos alimentares, um mal que atinge parcela significativa da população. Os transtornos alimentares envolvem fatores biológicos, psicológicos, familiares, socioculturais, genéticos e de personalidade. A anorexia é um dos principais transtornos alimentares contemporâneos, no qual a pessoa vive o peso ou a forma do corpo de uma forma distorcida, se recusando a manter o peso corporal dentro do mínimo considerado adequado para sua idade e altura. Ellen acredita ter a situação sob controle, quando seu corpo revela o contrário, uma aparência esquelética e assustadora. A família, embora seja apresentada como disfuncional, está abalada, tentando ajudar da melhor forma possível, para cada um. Filha de pais separados, Ellen morou mais tempo com a mãe e sua namorada, mas foi enviada para a casa do pai, no momento em que a mãe não suportou mais lidar com a questão da anorexia. Apesar do pai ausente, assistimos o bom convívio com sua meia irmã e o esforço de sua madrasta em buscar ajuda para a enteada. Embora a família seja apontada como conflituosa e disfuncional, em nenhum momento são citados como responsáveis, nem é o foco da trama. Que, aliás, explora mais as questões do ponto de vista daqueles acometidos pelo transtorno. “Aqueles” são os outros personagens em tratamento, que embora sejam pano de fundo, também retratam suas angústias. O encontro com eles apresenta outras perspectivas do transtorno, seja pelos sintomas ou pela singularidade de cada personagem ao  lidar com o problema.